A ATL tem por objetivo congregar escritores e intelectuais de todas as vertentes, propugnar por todos os meios ao seu alcance pela difusão, resgate, promoção e conservação evolutiva da cultura, incentivando sempre a criação literária.
No dia 5 de março de 2005 às 19 horas no Auditório da Escola Liceu de Tauá “Lili Feitosa”, foi fundada a Academia Tauaense de Letras, naquele momento imortalizado 14 Cadeiras com os seus Patronos e respectivos Membros Fundadores.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

RECESSO DA ATL

A Academia Tauaense de Letras chega aos 4 anos adicionando em sua alma imortal, um dinamismo jovem. Parte dessa conquista, dirigida pelo acadêmico João Geneilson Gomes através da abertura das portas reais e virtuais da Casa para a sociedade e da ousadia em levantar assuntos polêmicos como as Sessões e as Tertúlias Solene os Ciclos de Conferencias os Grupos de Estudos os Seminários Inhamuns, Inhamun. A todos os acadêmicos, funcionários e amigos da ATL, o portal da Academia Tauaense de Letras deseja um Natal bem iluminado e um 2008 entorpecido de felicidade e alegria, como o olhar de uma criança ao visitar a Casa das Letras dos Inhamuns.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

CÂNDIDO MEIRELES 112...

Cândido Meireles e seus 112 anos hoje comemoramos – Um Tauaense Ilustre – Escritor e Odontólogo
Cândido Meireles, Poeta e prosador tauaense, Patrono da Cadeira de N. 40 da Acacemia Tauaense de Letras. Nasceu em Tauá, aos 16 de dezembro de 1895, filho do Promotor de Justiça Dr. Gervásio Meireles e de Dona Aurelina Cândido Meireles. Aos 16 anos ingressou no Seminário, de onde foi afastado, dois anos depois por motivo de doença. Concluiu Odontologia na Faculdade de Odontologia e Farmácia do Ceará em Fortaleza, na turma de 1918. Fez parte do Recreio Literário Soriano Albuquerque (1919), em cujo órgão oficial – A Conquista, escrevia constantemente. Exerceu por algum tempo, o cargo de Inspetor-chefe do Serviço Odontológico Escolar. Colaborou em quase todos os jornais e revistas de Fortaleza da Época, com trabalhos em prosa e verso. Sócio efetivo da Associação Cearense de Imprensa. Poeta consagrado foi Membro da Academia Cearense de Letras.
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Contribuição Anamélia Mota

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

ATL EM FESTA

ACADEMIA TAUAENSE DE LETRAS EM FESTA Tomou Posse na Academia Tauaense de Letras - na Ala de Membros Correspondentes, a professora, musicista Rosângela de Souza Ponciano, tendo como Patrona a professora, poeta e redatora da Revista A Estrella (1906-1921), ANTONIETA CLOTILDE. Referida Patrona nasceu em Fortaleza, em 1890, é filha da professora e escritora tauaense Francisca Clotilde e do professor e jornalista varzealegrense Antonio Duarte Bezerra, ambos com atuação na Educação e na Imprensa da capital cearense, no Século XIX.
Rosângela é filha da professora aposentada Aldeize Mary de Souza Ponciano e do comerciante José Milton Ponciano, mantenedor da tradicional “Casa Ponciano”, na cidade de Aracati. É sobrinha-neta de Antonieta e bisneta de Francisca Clotilde. Além de professora Rosângela é amante da Arte e da Cultura cearense. É também, Co-fundadora da Associação Cultural Solar das Clotildes.

ANO BOM

ANO BOM

Sou o dia auspicioso
Em toda a humanidade
Num concerto harmonioso
Saúda a paz, a igualdade.
E no mais alegre tom,
Pronunciando mil bens,
Dá festivos parabéns
No rossicler de Ano Bom.
Na Nova Era que irradia
Enche de amor e esperanças
Os corações em porfia,
De moços e de crianças.
Com vibrações de prazer
Mais vivo e mais verdadeiro
Eis-los todos a dizer:
SALVE O DIA ALVISSAREIRO!

F. Clotilde. A Estrella,jan. de 1911.

DEZEMBRO

DEZEMBRO

Trajas o manto alegre e resplandecente
Que tem a primavera auspiciosa
Em ti se ostenta e vive sorridente
Da estação a mais bela e perfumosa.

Mês de Natal! Ao ver-te quem imã não sente
Vibrar-lhe na alma a nota sonora!
Se tu vens nos lembrar, doce e nitente
De um Deus menino a graça luminosa?

Que de saudades íntimas despertas
Ao lermos do passado sempre abertas
As páginas tecidas de ouro e luz.

Guardas em ti o aroma das florzinhas
Trenós de amor, da voz das pastorinhas,
Hinos do céu, honras a Jesus.

F. Clotilde. Revista A Estrella, dez. de 1910.

O PRESENTE RESGATANDO...

O PRESENTE RESGATANDO O PASSADO
Dia 08 de dezembro de 1935 a Imprensa de Fortaleza noticia: “Falece em Aracati, a conhecida e acatada educadora, dona Francisca Clotilde, a quem o Ceará muito se deve no campo da instrução. A extinta era também, apreciada cultora das letras onde deixou traços fulgurantes de sua inteligência”. (Jornal o Nordeste, Fortaleza, 09 de dezembro de 1935).
08 de dezembro de 2007 - Vem a lume nos Salões do Tricí Clube FRANCISCA CLOTILDE: Uma Pioneira da Educação e da Literatura no Ceará.
É O PRESENTE RESGATANDO O PASSADO ATRAVÉS DA
ACADEMIA TAUAENSE DE LETRAS.
“BENDITO O QUE SEMEIA LIVROS (...) E MANDA O POVO PENSAR”
(CASTRO ALVES).

ÁLBUM DE RECORDAÇÕES

ÁLBUM DE RECORDAÇÕES
“Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos e sem responsabilidade, talvez, não devamos existir” (José Saramago).
03/12/1873 – Padre Francisco Máximo Feitosa e Castro, primeiro vigário da Paróquia de Cococi celebra ali sua Primeira Missa. Na mesma Igreja, na manhã do dia 13 de agosto de 1923, padre Máximo Feitosa, afirma: “Celebrei aqui a minha primeira Missa [...] Hoje celebrarei a última”. Faleceu no mesmo dia.
04/12/1933 – Criado em Tauá o Distrito de Flores, que depois recebeu a denominação de Trici, conforme Decreto Lei, de 30 de dezembro de 1943. 06/12/1865 – Nasceu em Arneiroz Ulisses Bezerra, co-fundador da Padaria Espiritual, é Patrono na ATL, Cadeira fundada pelo poeta Dimas Macedo.
05/12/1979 – Nasce na fazenda Mutuca – distrito de Carrapateiras - Tauá, João Geneilson Gomes Araújo, Co-fundador e presidente da Academia Tauaense de Letras, patroneado pelo Engenheiro Ambientalista, Joaquim de Castro Feitosa.
08/12/1935 – Falece em Aracati, a conhecida e acatada educadora, dona Francisca Clotilde, a quem o Ceará muito se deve no campo da instrução. A extinta era também, apreciada cultora das letras onde deixou traços fulgurantes de sua inteligência. (Jornal o Nordeste, Fortaleza, 09 de dezembro de 1935).
13/12/1934 – O povoado de Marruás pertencente ao Tauá é elevado à categoria de Vila pelo Decreto Lei Nº 1404. A padroeira é de Santa Rita de Cássia (22 de maio).
16/12/1895 – Nasce em Tauá Cândido Meireles, Patrono da Cadeira Nº 40 na Academia Tauaense de Letras, fundada por Manoel Enéas Alves Mota.
19/12/1952 – Nasceu em Tauá Fausto (Carlos) Barreto. Foi Deputado Geral na Monarquia, Presidente do Rio Grande do Norte. Professor e escritor, redator da TRIBUNA, no Rio de Janeiro. Patrono na Academia Tauaense de Letras, Cadeira ocupada pela professora e escritora Adelaide Gonçalves.
19/12/1874 – Nasce em Itapajé a escritora Alba Valdez. Na Academia Feminina de Letras teve como Patrona a escritora tauaense Francisca Clotilde. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Cearense de Letras, e a segunda no Instituto do Ceará.
20/12/1938 – Criado o Distrito de Vera Cruz, atual, Inhamuns, deve-se ao Decreto Lei Nº 1.114 de 30 de dezembro de 1943. A padroeira é N. S. Perpétuo do Socorro.
22/121949 - Nasce em Tauá Idemar Loiola Cito. Deputado Estadual de 1995 a 2006. De seu trabalho legislativo, destaco o Projeto 0047/97 – Autoriza à Fundação Universidade do Ceará – FUNECE, a criar o Centro de Educação, Ciências e Tecnologia da Região dos Inhamuns - Aprovado em 23/09/1997.
23/12/1926 – Criado o Distrito de Santo Antônio do Carrapateiras, hoje Carrapateiras, Lei n.º 2471. Santo Antonio é o padroeiro (13 de junho).
24/12/1946 – Falece no Rio de Janeiro o poeta cearense Aristóteles Bezerra, autor de Transfigurações; Poemas de Fé e Saudade; Ed. Moral e Cívica.
25/12/1953 – Nasce Tauá, Manoel Enéas Alves Mota, Membro na Academia Tauaense de Letras, Patroneado por Cândido Meireles.
27/12/1/1881 – Ordena-se pelo Seminário do Maranhão o tauaense Antonio Carlos Barreto. Seminarista em Fortaleza, Matrícula Nº 280, a 30/07/1872. Coadjutor de Tauá de 2/04/1882 a 07 de agosto do mesmo ano.
28/12/1932 – Nasce em Tauá Júlio Gonçalves Rego, eleito Prefeito de Tauá em 1962. Deputado Estadual ininterruptamente, nas legislaturas de 1967 até a de 1991. Aos 28/12/1980 Dr. Júlio Rego inaugura em Tauá a Rádio Cultura dos Inhamuns.
29/12/1888 - Nasceu em Fortaleza Gustavo Dodt Barroso, historiador, jornalista e romancista que chegou a Presidência da Academia Brasileira de Letras.
29/12/1877 – Falece José Martiniano de Alencar, um dos maiores jornalistas e romancistas brasileiros, nascido em 1º de maio de 1829.31/12/1930 – Nasce no Vicente - Mombaça, Ana Custódio Mota, Mãe da colunista.

domingo, 2 de dezembro de 2007

A ÁRVORE

A ÁRVORE

Ao contemplá-la, triste emurchecida,
Os galhos nus, de flores despojados
Sem a seiva que outrora tanta vida
Lhe trazia em renovos delicados;

Ao vê-la assim tão só, tão esquecida,
Tendo gozado dias tão folgados,
Ao som dos passarinhos namorados,
Que nela achavam sombra apeticida.

Ai! Sem querer encontro semelhanças
Entre meus sonhos e minhas esperanças
E a mirrada árvore dolente.

Ela perdeu as folhas verdejantes
Bem como eu as ilusões fragrantes
Que outrora me embalavam docemente

Francisca Clotilde, Almanack do Ceará, 1897

Contribuição de Anamélia Mota

domingo, 11 de novembro de 2007

COLUNA DA PRESIDÊNCIA - ATL

COLUNA DA PRESIDÊNCIA - ATL
CÂNDIDO MEIRESLES & MANOEL ENÉAS
Em Sessão Solene realizada no Trici Clube no dia 03 do corrente, tomou Posse na Academia Tauaense de Letras o mais Novo Membro da Instituição – o Engenheiro Manoel Enéas Alves Mota, tendo como Patrono o Odontólogo e Poeta CÂNDIDO MEIRELES. O Discurso de Recepção foi pronunciado pela acadêmica Anamélia Custódio Mota, seguido do discurso de Posse do Recepiendário. Ocupou a Tribuna Emanuel Maia Mota, representando a Família do Recepiendário e Narcélio Meireles, representando a Família do Patrono.

SONETO A BANDEIRA

A BANDEIRA
(À alma heróica de Antônio Chagas)

F. Clotilde

Bandeira do Brasil! Assim galhardamente,
Eu te vejo brilhar – emblema sugestivo –
De suprema grandeza e majestade ingente!
Erguida nesse dia ao rossicler festivo!

Tens o encanto do azul e o sorriso expressivo
Das campinas em flor tens a graça inocente;
E a luz primaveril do céu inspirativo
Onde esplende o Cruzeiro, a nos guiar a mente.

Hás de sempre vencer, nos certames da glória,
Não precisas de guerra, em láureas de vitória,
Tens conquistas de amor e da paz os troféus;

Entre as demais nações serás sempre a primeira,
Portentoso Brasil, cuja excelsa Bandeira
Tem tesouros da terra e as estrelas dos céus.

Revista A Estrella, ed. ago/set de 1916.
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Contribuição: Acadêmica Anamélia Mota
anamaliacademia@usedata.com.br

ÁLBUM DE RECORDAÇÕES

ÁLBUM DE RECORDAÇÕES
“Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos e sem responsabilidade, talvez, não devamos existir” (José Saramago).

06/10/1906 – Um grupo de jovens encabeçado por Joaquim Pimenta fundam a Revista “Fortaleza” (1906-1908).
15/10/1762 – Entregue ao culto público o primeiro Templo Religioso de Tauá, a Igreja Nossa Senhora do Rosário, com terreno doado por José Rodrigues de Matos cujo doador era genro/herdeiro do Sesmeiro Manoel de Couto Figueredo.
19/10/1927 – Falece em Barbalha o vigário local: Antonio Jataí de Sousa, nascido em Tauá a 03 de junho de 1861.
23/10/1970 – A Poetisa tauaense Nazareth Serra realiza Conferência e toma Posse na Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno, tendo como Patrona a escritora Leonete Oliveira. 19/10/1862 - Nasce em Tauá a professora e escritora Francisca Clotilde, que teve atuação na Imprensa de Fortaleza, Baturité e Aracati.
23/10/1949 – Após longos anos de ausência (40), visita Tauá, sua terra natal, o jurista e sociólogo Joaquim Pimenta, acompanhado de sua consorte D. Lili Azedo, de seu filho Joaquim Pimenta Filho. O Discurso de Recepção coube ao Dr. Joaquim de Castro Feitosa.
28/10/1906 – Surge em Baturité A Revista sócio cultural A Estrella (1906-1921), uma idealização de duas jovens Antonieta Clotilde e Carmem Taumaturgo.
28/10/1971 – Dom Antônio Fragoso, Bispo de Crateús Concelebra em Tauá pela Expulsão do Padre José Pendândula.
29/10/1942 – Francisca Clotilde é aclamada Patrona na Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno em Conferência pronunciada pela escritora Stela Maria Barbosa de Araújo, com Parecer do ilustre educador Filgueiras Lima. Ambos, Conferencista e Parecista foram alunos de Francisca Clotilde.
03/11/1908 Nasce em Fortaleza Paulo Sarasate, fundador de “O Povo”, um dos mais destacados jornais Ceará.
04/11/2003 – Falece aos 92 anos a escritora cearense Raquel de Queiroz - “Rita de Queluz”. Primeira Mulher a ocupar uma Cadeira na Academia Brasileira de Letras, a partir de 05 de agosto de 1977.
20/11/1884 – Circula em Fortaleza a Revista “Contemporânea”, na qual colaborraram, Francisca Clotilde e outros notáveis da Época. 21/11/1928 – Falece em Mombaça o Juiz Municipal Dr. Bernardo Feitosa, Patrono nesta Casa.
29/11/2005 – Falece em Tauá Adauto Cavalcante Mota, nascido em Marruás no dia 15 de outubro de 1916.
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Contribuição: Acadêmica Anamélia Mota

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

PÁTRIA BRASILEIRA

PÁTRIA BRASILEIRA
A. Clotilde

Sinto um justo orgulho de ter por Pátria o vasto território brasileiro, decantado nas liras de ouro dos poetas, exaltado em sonoros versos, em frases rendilhadas, em Obras monumentais de filhos diletos que sabem apreciar as sublimes belezas que nele se encerram com uma magnificência deslumbradora.
Não há certamente maior encanto, mais doce atração para um coração patriota do que contemplar nessas noites belíssimas de estio o firmamento matizado de estrelas a espalharem dourados clarões sobre a Terra. Parece que este pálido azul representa o nosso adorado Brasil e suas luminosas constelações, os estados florescentes, destacando-se com um brilho deslumbrante o magnífico "Cruzeiro do Sul", que pode simbolizar as glórias do Ceará – a partir da Liberdade – A Terra da Luz.
Oh! Que prazer invade-me a alma vendo a Bandeira de minha Pátria flutuando à áurea da glória, beijada pelo sol verdejante que lhe imprime áureos reflexos fazendo sobressair o verde expressivo que lembra a esperança e o penhor da vitória!
Vastas campinas, onde se desabrocham mil flores, apenas o inverno envia ao solo ressequido as gotas do benfazejo inverno, serras imponentes que se erguem para as alturas coroadas de verduras, cascatas espumosas que refletem os raios solares em belíssimas cambiantes, regalos que serpenteiam docemente umedecendo a grama esmeraldina dos prados, aves multicores que saúdam as alvoradas festivas em gorjeios harmoniosos.
Tudo me faz amar com acrisolado afeto a minha grande Pátria, o meu adorado e estremecido Brasil. Sim, apesar de pequena, aprecio a tua grandeza, oh! Minha Terra. E curvo-me diante daqueles que iluminam o cérebro de teus filhos com os fulgores da instrução e lhes ensinam a defender os teus brios, a exaltar teu valor e a trabalhar pelo teu engrandecimento entre as Nações.

Antonieta Clotilde. CEARÁ INTELECTUAL, Fortaleza, 1910
Contribuição: Acadêmica Anamélia Mota

terça-feira, 6 de novembro de 2007

PRESIDENTE DA ATL...

O Presidente da ATL foi Homenageado pela Assembléia Legislativa do Ceará. A Assembléia Legislativa do Ceará prestou Homenagem por ocasião do Dia da Literatura Cearense ao presidente da Academia Tauaense de Letras o Acadêmico João Geneilson Gomes. A Sessão na Assembléia ocorreu na terça feira (13 de novembro) às 19 horas no Plenário Treze de Maio da AL em Fortaleza e controu com a presença dos Membros da ATL e convidados.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

CONVITE...

“Não morre aquele que deixou na terra a melodia do seu cântico,
na música de seus versos” ( Cora Coralina)
A Academia Tauaense de Letras tem a honra de convidar V. Sa. e Família, para a Solenidade de Lançamento do Livro,

FRANCISCA CLOTILDE: Uma pioneira da Educação
e da Literatura no Ceará

Autora: Anamélia Custódio Mota
Local: Trici Clube
Data: 08 de dezembro de 2007
Horário: 19h30min.

Na mesma ocasião será fundada a Cadeira de N. 11 – ANTONIETA CLOTILDE – na Ala de Patronos Correspondentes desta Academia, tendo como Membro Ocupante Rosângela de Souza Ponciano – bisneta de Francisca Clotilde

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

CURSO DE HISTÓRIA...

A Academia Tauaense de Letras, na presidência do Acadêmico João Geneilson Gomes Araújo, promove, nos dias 8 e 9 de dezembro de 2007 apartir das 19 horas no Auditório do Liceu de Tauá a 2º etapa do Curso HISTÓRIA DO CEARÁ, com amplos debates sobre os intelectuais cearenses na literatura, na história e na cultura com abordagem da memória e das idéias em nosso Estado no século XIX e XX.

Curso História das idéias no Ceará:
Pensamento social no Ceará,
finais do século XIX e primeiras décadas do século XX.

Coordenadora Profª. Drª Adelaide Gonçalves

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

DISCURSO DE POSSE...

ACADEMIA TAUAENSE DE LETRAS DE TAUÁ RECEBE NOVO ACADÊMICO

Academia Tauaense de Letras – Discurso de posse em 03/nov/2007
Senhor Presidente da Academia Tauaense de Letras, Prof. João Geneilson,
Ilustres componentes da Mesa,
Minhas queridas confreiras,
Meus queridos confrades,
Minhas amigas,
Meus amigos,

Senhoras e Senhores,

Neste 03.nov.2007, as venerandas portas da ACADEMIA TAUAENSE DE LETRAS, se abrem para acolher fraternalmente, este que vos fala, como o mais humilde dos servos acadêmicos. Neste simbólico recinto de estudo, meditação e de trabalho profícuo, reúnem-se os cultores do saber, para festejarem o nosso ingresso na ATL.
Podeis muito bem avaliar o quanto me está sendo grato e honroso, ser recebido nesta casa. Agradeço, igualmente, ao Senhor Presidente deste apogeu de Imortais, Prof. João Geneilson e demais acadêmicos, pela escolha do meu nome para ocupar a Cadeira 40, cujo Patrono, CÂNDIDO MEIRELES, por certo, há de vibrar em meu pensamento nesta noite festiva, e maravilhosa, que passa a fazer parte das minhas recordações mais gratas.
Mas aqui estou. Não para falar sobre mim mesmo, porém para tecer considerações iniciais sobre o meu patrono, isto é, da Cadeira 40, que hoje ocupo: Cândido Meireles.
Cândido Meireles – Natural de Tauá (1895 – 1968)

Odontólogo pela Faculdade de Odontologia e Farmácia do Ceará, tendo exercido por algum tempo, o cargo de Inspetor Regional do Ensino, as funções de Inspetor-Chefe do Serviço odontológico Escolar. Sócio Efetivo da Associação Cearense de Imprensa, colaborou há alguns anos em quase todos os jornais e revistas de Fortaleza, com trabalhos em prosa e verso. Quando ainda estudante, fez parte do Recreio Literário Soriano de Albuquerque – 1919, em cujo órgão oficial – A Conquista – escrevia constantemente, 1935.

Em Sonetos Cearenses, destaca-se de modo claro, a Poesia Paciência, que encarando esta grande virtude assim se expressou:

PACIÊNCIA (Cândido Meireles, Sonetos Cearenses, 1938)


Irmã dos pobres, terna e doce amiga
Dos tristes, dos vencidos, dos descrentes;
Dos que um destino avesso desabriga
E andam na vida assim como desmentes.

Que a tua afável luz sempre me siga,
E as minhas dores mudas adormentes,
Que eu sempre te abençoe e te bendiga,
Irmãzinha dos velhos e dos doentes.

Toda a razão do amor tu concretizas:
Quando o conforto espalhas entre os seres,
E as agonias fundas amortizas.

Tu, que de consolar nunca te cansas,
Bendita sejas sempre, só por seres
Semeadora eterna de esperanças.

A sabedoria do Patrono da Cadeira 40, quiz incentivar tão nobre virtude, nos ensinando a termos um controle emocional equilibrado, sem nunca perdermos a calma. Paciênica ao que se vê nesta arte que lemos, enconrta ressonância na tolerância a erros, ou fatos indesejados, tendo capacidade de suportar incômodos e dificuldades de toda ordem, em qualquer hora ou em qualquer lugar. Ter paciência, é persistir em uma atividade difícil, acreditando conseguir o almejado. Em última análise, é ser perseverante e capaz de esperar o momento certo para o retorno das atitudes do presente. Tendo paciência, teremos capacidade de ouvir alguém, com calma, atenção, sem pressa e sem ansiedade. Ser paciente é pois, ser tolerante.
Senhoras e senhores,
Analisando por este prisma, tomar posse na cadeira número 40 da Academia Tauaense de Letras, é uma alegria, uma honra e sobretudo uma enorme responsabilidade. Alegria, pelo reconhecimento. Honra, pela recompensa que parte de uma das mais exigentes entidades tauaenses, famosa pela severidade com que escolhe seus membros. E responsabilidade, pelo patrono Cândido Meireles, tauaense exemplar, até então no anonimato e somente agora evidenciado, após o seu centenário de nascimento, valendo aqui parabenizar a Acadêmica Anamelia, pelo devotado trabalho e por informações valiosas sobre a vida deste ilustre tauaense.
Finalmente, como a vida corre célere, em atmosfera de positividade, tenho que agradecer a todos que participaram ou participam de alguma forma da minha vida, somando comigo, me ensinando, e fazendo dela, essencialmente, uma vida boa de ser vivida.
Muito obrigado aos meus familiares, Isabel minha mulher, companheira e confidente de todos os momentos, meus filhos Emanuel e Sarah, Patrícia, Gabriela, minha mãe e meus irmãos, pelo amor, pela constância e pela paciência que sempre tiveram e têm comigo. Obrigado aos meus amigos e minhas amigas - gente que gostou ou gosta de mim e de quem eu gosto, ou melhor, que eu amo - e que ao longo do percurso dividiram e dividem, tanta coisa comigo.
A todos vocês que vieram aqui me prestigiar nesta noite, o meu carinho, a minha amizade, o meu mais profundo agradecimento e a certeza de que tanta generosidade não será esquecida dentro deste coração que pulsa saudade, saudade, saudade.
E por falar em saudade, não posso esquecer um importante Acadêmico, que por aqui passou tão rápido, pois Deus o chamou certamente para outras missões. Trata-se de Alberto Lima Sobrinho, com quem mantinha sólida amizade. Alberto partiu deixando lacuna impreenchível, quer nas letras, quer no jornalismo, atividade que despontava promissora e onde tínhamos projetos comuns, ainda hoje sem um substituto. Alberto partiu cedo, mas deixou uma obra valorosa, que solidificou sua imortalidade.
Estou feliz de estar entre vós.
Portanto, meus amigos, eis-me aqui nesta Casa. Eis-me aqui, como um colaborador, acostumado à luta e ao desafio, na maioria das vezes escolhendo os caminhos tortuosos, para aprender a ter paciência. Talvez por isto, o patrono se encaixou tão bem na minha maneira de ser.
Assim, nada melhor do que ombrear-me a esta plêiade de ilustres confreiras e confrades, que engalanam os quadros da Academia Tauaense de Letras, a quem, de modo muito justo, rendo as minhas homenagens e os meus agradecimentos.
Minhas senhoras e meus senhores,
A providência divina ou o destino, muitas vezes colocam-nos em situação jamais imaginadas e hoje me encontro numa destas oportunidades, preferindo entender como uma inédita honraria, muito superior aos modestos méritos de profissional. Daí reconheço a tamanha ousadia de sentar na cadeira cujo patrono é o insigne Cândido Meireles. Todavia, aqui estou, sobretudo graças a Deus, movido e atraído pela admiração às qualidades desse herói, prometendo não desapontá-lo, sobretudo honrando o compromisso, no sentido de: “exercer com dignidade e independência; observando a ética, os deveres e prerrogativas; bem como colaborando no aperfeiçoamento da cultura e desta instituição.
Por conseguinte, a minha entrada nesta Academia foi sobretudo fruto da gentileza dos nobres acadêmicos apoiadores, a quem agradeço do fundo do coração, aos que assinaram nossa indicação: Prof. João Geneilson, Anamelia Mota e Maria da Trindade, observando que desde cedo compreendi a ATL, como fomentadora de uma atmosfera positiva, valendo afirmar, que a lei da atração se instalou de uma vez por todas, entre nós. Nada neste mundo ocorre por acaso. Sinto que este grupo de pessoas, sumo da intelectualidade do Tauá, estão a cada dia, oferecendo seus conhecimentos em prol de um Tauá mais esclarecido, em prol de um Tauá que compreenda, que a nossa passagem aqui neste mundo, é efêmera e nos exige decisões firmes em prol do próximo e da humanidade.

Obrigado mais uma vez. Despeço-me desejando a todos, muita paz e muita saúde. Sejamos sempre, seres de muita paz.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

ANIVERSÁRIO F. CLOTILDE

HOJE, 19 de outubro, é um dia muito especial para a História da Mulher cearense, pois é o Dia do Aniversário de Nascimento da Poetisa, Contista, Cronista, Jornalista, Romancista, Dramaturga e Professora FRANCISCA CLOTILDE, figura ímpar na História da Educação e da Literatura Cearense, em finais do Século XIX e primeiras décadas do Século XX. Na data de hoje, FRANCISCA CLOTILDE costumava receber Homenagens de seus colegas. Vejamos como exemplo:

SINGELAS SAUDAÇÕES

(À D. Francisca Clotilde, pelo 19 de outubro)

Saudar venho boa amiga,
Esta data esplendorosa
Receba com mil flores,
É festiva e assaz ditosa,
Pois relembra o teu natal,
Salve data auspiciosa.

Que durante muitos anos,
Festejamos esse dia
E que seja aureolado
Pelas bênçãos de Maria,
Salve, salve o dezenove
Que nos trás doce alegria!

Que vivas sempre feliz
Junto a lira predileta
Aos caminhos de Aristóteles
E de Ângela dileta
Fitando a Estrellinha
Da distinta Antonietta.


CARLYLE MARTINS. Revista A Estrella, Outubro de 1916.


FELIZ NATAL
(Saudação à talentosa D. F. Clotilde)

Apoteose sublime! A natureza...
Porque exulta assim, porque nos ninhos
Há tanta festa e os lindos passarinhos
Que mistérios celebram na leveza?

Pelos jardins as flores, que beleza!
Em idílios de amor ternos carinhos
Permutam... Colibris entre os espinhos
Das rosas, vão beijá-las com presteza.

Dizei-me, oh! Natureza delirante:
Porque tanto exultais, porque motivo,
Vejo-vos assim feliz e radiante?

Nossa alegria infinda não se rende:
É que hoje é o natal doce e festivo,
Da meiga poetisa cearense!

CORDÉLIA SYLVIA. A Estrella, outubro de 1915.


VIVA O DEZENOVE DE OUTUBRO! VIVA FRANCISCA CLOTILDE!


Anamélia Mota
Membro Fundadora da Cadeira Nº 11, Patroneada por F. CLOTIDE
na Academia Tauaense de Letras.

sábado, 13 de outubro de 2007

CONVITE


A Academia Tauaense de Letras tem a satisfação de convidar V. Sa. e família para participar da Sessão Solene de posse do Acadêmico Manoel Enéas Alves Mota, que irá ocupar a Cadeira nº. 40, patroneada pelo tauaense Imortal Cândido Meireles.

Data: 3 de novembro de 2007
Horário: 20 horas
Local: Trici Clube


OS SAPATOS VELHOS

OS SAPATOS VELHOS
Franco Feitosa *

- “Há três fins de semana que não vou à casa de mamãe. O Juninho daqui a pouco não conhece nem mais a avó! Blá-blá-blá....etc...blá-blá-blá, etc”... e a cantilena matraqueada e desafinada que começara alguns séculos atrás, ir-se-ia prolongar por mais dois ou três milênios se não fôra ela sair batendo a porta e rebocando o coitado do menino pela mão.
Quando o estrondo do fechar da porta diminuiu, pude ouvir o raivoso pisar do salto alto, o violentar da porta e as quatro tentativas de arranco do motor da camioneta.
- A camioneta!...
- Pô! Vou ficar sem a camioneta! Se pintar uma pescaria vou ter que ir no carro de passeio... Corri. Abri a porta e... vi apenas quando sumiram na esquina. Consolei-me, afinal não iria suportar outro fim de semana em casa de minha sogra. Nada de especial. Não me leve a mal. Ela seria ótima, se fosse a sua sogra, não minha! Vai falar assim na casa-do-chico, Sô! Não pára um segundo de descrever as genialidades de seu filho e as (insinua apenas) imbecilidades de seu único genro - eu. Preferível, mil vezes ficar em casa, num sábado ensolarado, curtindo uma televisãozinha.
- Ué! Esta TV ‘ tava ótima ontem, e agora não tem imagem! Mexo daqui, mexo dali... sinto cheiro de queimado e de repente, nem som nem nada. Pifou de vez. Olho o relógio, duas horas da tarde, consêrto especializado só segunda feira. Não desanimo. Abro a janela do quarto e vejo que o dia está lindo. Dourado sobre anil. Um céu de brigadeiro, a temperatura agradável, uma brisa fresca mexeu com a cortina, e então escutei o silêncio tranqüilizador que dominou minha casa. “Enfim só!”
Mil alternativas. Liguei o sistema de som... Nada. Nem mesmo uma luzinha acendeu. Acendi a luz, isto é, liguei o interruptor... Nada de luz. Telefonei para companhia de luz. Problema na linha, fornecimento interrompido por 10 ou 12 horas, provavelmente.
Bem, sempre há o que fazer. Tomar uma cervejinha bem gelad... e abrir a geladeira, descongelar a carne e ser culpado de tudo! Nunca! Melhor beber um cafezinho requentado e ler o jorna... que ficou no banco da camioneta! E adianta xingar?.. Passei as duas mãos lentamente na cabeça, comprimi as frontes enquanto me sentava no sofá com os cotovelos apoiados nos joelhos, procurando uma outra idéia de curtir o resto do dia, até que chegasse a hora de ir ao futebol.
Sempre há o que fazer! Acho que já disse isso... Não importa. Levantei-me e lembrei-me das compras que tinha feito ontem. Uma camisa, um cinto, um par de sapatos e outras bugigangas que formavam o volumoso pacote ainda sobre a cômoda no quarto de dormir. De dormir mesmo!.. Há muito me acostumei a dormir ouvindo lengalengas, broncas ou lamentações. Sou talvez o mais fiel devoto de Morfeu. Acho que por isso não me tornei alcoólatra ou viciado em tranqüilizantes. Durmo ‘pedregosamente’ - pesado e sólido. Sem roncos ou agitações... mas só sei dormir de noite... Que mudança! Nem pareço mais aquele boêmio alegre, que só via o sol quando este nascia, invadindo o boteco ou a noitada boa. Acho até que virei Inca! ‘ tô adorando o sol e a luz... O que o casamento não fizer, nem a peste negra faz.
É, chega de pensar bobagens... Vamos arrumar as coisas em seus lugares...
Abri o pacote. Tirei a camisa da caixa, e pacientemente retirei todos os alfinetes, plástico do colarinho, etiquetas gomadas com código e preço, papelão de suporte, e toda a parafernália que acompanha uma camisa comprada feita. Terminado o cerimonial, voltei-me para os sapatos... Bonitos! Um pouco incômodos, mas bonitos. Estava mesmo precisando. Abaixei-me, abri a sapateira e com uma só mão tirei meus sapatos velhos da prateleira enquanto com um gemido e comprimindo as costas com a mão livre, levantei-me.
Instintivamente olhei para os velhos sapatos, prestes a serem atirados no latão de lixo. Hoje deformados, de cor indefinida e brilho opaco, nem de longe faziam lembrar sua elegância marrom-clara de dez anos atrás. Dez anos! Como eles duraram! Também..., raramente usava sapatos sociais, principalmente depois que me casara. Calçar sapato social para trabalhar onde trabalho? Ou, pior ainda, ir para a casa da sogra?... Lá vou eu de novo! Chega de pensar bobagem!
Peguei os sapatos velhos, abri o latão de lixo, dei uma olhada nos velhos heróis de couro - Puro cromo alemão! - e parei. O pensamento me transportou para aquele dia, dez anos atrás. Que dia lindo! Quanta esperança em um só dia. Lembro-me até do jeito do vendedor, na sapataria. Todo respeitoso e solícito. Era o par de sapatos mais caro da loja. Acabara de chegar da Europa. Sóbrio, elegante, distinto. Exatamente o que eu precisava para aquele dia. Calçou meu pé como uma luva. Modelo fino, arqueado, cor clara e uniforme, a perfeita combinação para as meias finas e discretas que também comprara. Tudo elegante...
Meus olhos se encheram de brilho, e meu coração vibrou de alegria nostálgica de quem relembra uma coisa boa (Haec oleim momenisse juvabit, de Ovídio). Lembro-me bem. Calças, camisa social, cinto, meias, tudo novo! Tudo tão bonito, como tudo foi naquele dia memorável. Lembro-me bem quando os calcei, vesti o paletó e fui para... para...
PS. Não vou terminar, pois acho que você também já comprou um par de sapatos novos para...

* O acadêmico Franco Feitosa ocupa a cadeira 21 da Academia Tauaense de Letras.

*Conto inédito do professor Francisco Franco Feitosa Teles, escrito em Minas Gerais, no ano de 1982, quando este pertencia à Associação Profissional dos Escritores Mineiros.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

III ENCONTRO DO GRUPO...

A Academia Tauaense de Letras, na presidência do Acadêmico João Geneilson Gomes Araújo, promove, no dia 26 de outubro de 2007 às 19 horas na sala reuniões da ATL o III ENCONTRO DO GRUPO DE ESTUDO DA HISTÓRIA DO CEARÁ, neste encontro iremos assistir o documentário CAMINHOS DA FÉ, sobre a festa de Jesus, Maria e José e a religiosidade em Marrecas em seguida um amplo debate sobre religioso, históricos e culturais.

Grupo de Estudo da História das idéias no Ceará:
Pensamento social no Ceará,
finais do século XIX e primeiras décadas do século XX.

Coordenadora Profª. Drª Adelaide Gonçalves

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

ANTOLOGIA NACIONAL

Fausto Barreto(foto) e Carlos de LaetA Antologia Nacional (ou Colleção de Excerptos dos Principaes Escriptores da Língua Portuguesa, do 19º. ao 16o. século), organizada pelos professores Fausto Barreto e Carlos de Laet, por solicitação do editor J. G. Azevedo ( da Francisco Alves & Cia.), foi dos livros mais populares em nossas escolas, nos primeiros anos do século XX. Adotada no Colégio Pedro II do Rio de Janeiro, na Escola Normal do Distrito Federal, no Colégio Militar e, progressivamente, pela maioria dos estabelecimentos de ensino nas principais capitais brasileiras, essa Antologia Nacional básica na formação literária de muitas gerações de brasileiros. Inclusive foi o modelo das dezenas de antologias que surgiram depois e chegam até nós. O critério da organização do volume bem como a natureza dos textos escolhidos são bem elucidativos dos principais objetivos e ideais que orientavam, na época, a tarefa educativa. Resumindo-os: ênfase na clareza e na lógica que devia imperar na expressão do pensamento; valorização do contemporâneo e ênfase ao nacional, a par da autoridade inquestionável da fonte-geratriz portuguesa.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

2º CICLO DE CONFERÊNCIA

2º Ciclo de Conferências:
apresentará depoimentos historicos sobre Cine União e o espaço das artes em Tauá. Na próxima quinta feira (18/10) às 19:00 h na União Artistica Tauaense, o grupo de contadores de história irá analisar a trajetória cultural que envolve às artes em nossa Tauá. O evento será aberto a todo público interessado e terá transmissão ao vivo pelo portal USEDATA.




O DIREITO DO POVO

F. Clotilde
Patrona da Cadeira nº. 11

Sabedoria popular! Bonitas palavras inteiramente vazias de sentido no apregoado regime das Repúblicas!
Temos o exemplo frisante do que se passa entre nós, neste triste espetáculo que o Brasil apresenta perante as nações cultas da terra. Para que serve o direito do voto? Qual é o fim dos comícios eleitorais? No entanto, qual é o resultado dessa atividade sagrada e respeitável? Os partidos impõem o reconhecimento de seus adeptos e, embora tenham eles tido a minoria e seja isso um fato claríssimo e indiscutível, saem vitoriosos e vão às câmaras alardear o seu prestígio e apresentam projetos que fazem envergonhar os que dentre eles são mais escrupulosos e menos indignos.
É isto que chamam República? Pobre povo!
O teu direito é conspureado a todo instante, só tens que suportar o vexame do imposto, o jogo dos mandões, a prepotência dos chefes que colocam os seus interesses acima de tudo.
Trabalhas para que a tua Pátria tenha soldados e vasos de guerra que a tornem respeitada e, quando é mister o teu sacrifício os homens de farda fazem de ti o alvo de suas carabinas e os encouraçados chegam aos teus portos a fim de bombardearem as tuas cidades?
Sonhas a liberdade e a justiça?
Utopias!
Para seres livres é preciso que derrames o teu sangue generoso nas praças e nas ruas, que, esmagues os teus affectos mais fortes indo de armas na mão enfrentar esses irmãos desnaturados que desejam o teu aniquilamento e o teu captiveiro moral.
No dia que acordas como um leão selvagem o teu despertar é terrível.
Derrubas os tiranos, como fizestes a 24 de janeiro e, repugnando-te manchar as tuas mãos com o sangue dos que te esmagavam no furor de seu despotismo, perdoa os desvarios envolvendo-os na esmola de tua misericórdia.
Tudo se encaminha numa corrente fatal para o desprestígio de uma Nação que devia espirar os mais elevados ideais.
Que ressoe pela imprensa o grito que nos vem do íntimo verberando os desmandos e injustiças com que se celebram os timoneiros da nau governamental.
Será vencido o povo?
Continuará a ser vítima do partidarismo egoísta dos maus cidadãos, ameaçado pelas baionetas e pelos canhões?
Deus proteja o Ceará, que atravessa uma fase difícil, e livre os meus patrícios de lutas fratricidas fazendo-os gozar as delícias de um governo digno e justo.

F. CLOTILDE. In: Pelo Ceará, Aracati (1912) pp. 6-8.
Ver também: ARAÚJO, Maria Stela B. In: Mulheres do Brasil (Pensamento e Ação) Vol. 1. Fortaleza: Galeno, 1971, pp. 242-243 e MOTA, Anamélia C. MONOGRAFIA: URCA-CE, 2006.

PRÉ-TEXTO

Dimas Macedo
dimacedo@pge.ce.gov.br

A literatura é uma imensa tragédia interior. É a perdição completa de um ser, que aceita, contra a sua vontade, trocar a vida por palavras, como forma de estar-no-mundo e de sobreviver.
Todos os grandes escritores que admirei, todos os poetas e críticos de literatura com os quais convivi, sempre se mostraram em estado de tensão permanente nos recessos da sua buliçosa vida interior.
E todos os manuais que li sobre os ofícios da arte literária, é certo que jamais variaram de tom: a literatura aí aparece como se fosse uma terrível carga de poder, exercida sobre a energia vital de quem a empreende.
Albert Camus, com acerto, afirmou, certa feita, que ao escritor não cabe mudar a história, mas sofrer a história, isto é, compreender, com o seu intelecto, as tiranias do social é contra elas investir com a claridade dos seus códigos semânticos, fazendo do humanismo uma trincheira de lutas em defesa do bem.
Assim sendo e ancorado na minha razão interior, aceito a literatura como um tormento sagrado, um prazer doloroso e como sinal da mística rediviva que pulsa no meu sangue e na espessura profunda do meu ser.
A imaginação, como já afirmou Rosa Montero, com base em Santa Teresa de Jesus, é “a louca da casa”. E a casa do ser é a palavra. A palavra fundadora do belo. A palavra que não nos deixa provar a existência real.
Se não fosse escritor, eu seria escritor de uma ou de outra maneira. É visceral e existencial em mim a tentação que me leva para a literatura e para a esfinge da sua completa indecifração.
Fortaleza, 30 de junho de 2007

terça-feira, 4 de setembro de 2007

SETE DE SETEMBRO

SETE DE SETEMBRO

Esplende o sol... O Ypiranga desliza
E nele se reflete o azul sereno,
Lindo..., A desdobrar-se ameno,
De luz e beleza se matiza.

Independência ou Morte! Concretiza.
O brado augusto, vivo como um treno,
O gesto nobre, o decantado aceno,
Do Monarca que ali se sublima...

E o grito vibra além... Há manifestas
Expressões as mais justas,
Um delírio de usos e festas.

E a grande terra, erguida na História,
Aureolada de estrelas refulgentes,
Sente envolvê-la a sagração da glória.

Francisca Clotilde, Revista A Estrella, set de 1921.

sábado, 25 de agosto de 2007

ÉTICA E MORAL

ÉTICA E MORAL: algumas considerações

A abordagem do tema Ética e Moral nos induz a algumas considerações preliminares. Inicialmente convém estabelecer a distinção entre Ética e Moral. Estes termos são sinônimos? Sim, no linguajar cotidiano. Entrementes, distintos à luz da Filosofia.
A Ética é constituída por princípios e valores. A Moral pelos costumes. Melhor explicitando: a Ética repousa na Axiologia, a Moral repousa na ação concreta; a Ética é de caráter teórico, o Moral é de natureza prática. A Ética é a teoria, a ciência do comportamento moral; a Moral é definida como um conjunto de normas que norteiam o comportamento humano.
Em que pese esta distinção é muito clara a correlação entre ambas: tanto a Ética quanto a Moral dizem respeito ao agir humano, ao fazer do homem: a Ética delineando os princípios e valores deste agir e a Moral concretizando-os no dia-a-dia.
A origem histórica e etimológica dos termos Ética e Moral por si só evidenciam esta distinção. Etimologicamente a palavra Ética provem do grego “ethos” significando o modo de ser, o caráter. Os romanos, por seu turno, traduziram o “ethos” grego para o latim “mos” (no plural “mores”) significando costumes, hábitos.
Certo é que tanto o termo “ethos” (caráter) como o termo “mos” (costume) apontam na direção do “fazer humano”, do seu agir, de sua ação. Encontrar uma jóia em uma caçada e dela tomar posse pode ser um costume, um gesto habitual freqüentemente visto nos dias atuais. Entretanto, responder à questão: é justa esta posse? – é uma indagação que nos remete ao campo da Ética. Da mesma forma, o costume de um jovem consumir drogas por conta do ambiente em que vive é visto como uma ação corriqueira, mas, sobre ele recai a pergunta: - é licito tal comportamento?
Muitos foram os pensadores (filósofos) que se debruçaram sobre a problemática da Ética e da Moral. Historicamente reconstituindo o tema já temos no “O Banquete” de Platão os primórdios desta questão no nascedouro da cultura helênica no distante século IV a.C.
Na Idade Média tanto o pensamento tomista (Tomás de Aquino) quanto escolástico (Agostinho, Pedro Abelardo e outros) também se ocupam deste assunto.
No século XVII, Barruch Spinoza (1632-1677) com sua obra Ética; Nicolau Malebranche (1638-1715) com o escrito Tratado de Moral; John Locke (1632-1704) com seu Tratado do Governo Civil também discutiram a mesma questão sob o ângulo filosófico.
No século seguinte (XVIII), em plena Idade Moderna, a obra “Os Fundamentos da Metafísica dos Costumes” de Emanuel Kant retoma esta problemática, por sinal lançando uma revisão crítica sobre o conceito de Ética e de Moral esposado até sua época e encarnados por David Hume (1711-1776) e Jean Jacques Rousseau 1712-1778). É famosa sua formulação: age unicamente segundo máxima que te leve a querer ao mesmo tempo que ela se torne lei universal”.
A Assertiva kantiana se encaminha para uma outra questão importante, ou seja, o problema da liberdade que “consiste na obediência à lei autoprescrita” (Roussau).
Na Idade Contemporânea certamente nenhum pensador como o filósofo-pedagogo norte-americano John Dewey melhor tratou da problemática em tela. Coube a Dewey nos trazer a importante distinção entre “moralidade costumeira” e “moralidade reflexiva”, pondo a primeira seu enfoque nas regras de conduta e a segunda apelando para a consciência (Leia-se deste autor Teoria da Vida Moral). Posição de destaque ocupa igualmente neste período o filósofo françês Jean Paul Sartre publicando O Ser e o Nada e o existencialista Albert Camus com O Avesso e o Direito.
Ética e Moral não fugiram às considerações de filósofos brasileiros, entre outros, Raimundo Farias Brito (A Verdade Como Regra das Ações) e Alceu Amoroso Lima ou simplesmente Tristão de Athayde com a obra Os Direitos do Homem e o Homem sem Direitos.
Vivemos atualmente uma crise ética. Valores apregoados como perenes e absolutos encontram-se aviltados e banalizados pela sociedade hodierna. O capitalismo selvagem dos dias atuais empana as consciências desvirtuando-as de uma prática ética e moral. A vida – como valor supremo do ser humano – é sacrificada em nome deste capitalismo que se expressa em guerras e destruição. Para onde caminha a humanidade? Esta indagação (título de um longa-metragem) postula de nossa parte uma reflexão que nos leve a uma prática de vida em que o respeito ao outro, a supremacia da vida sobre a morte, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento científico e tecnológico sejam vistos como instrumentos de continuidade e não destruição da própria humanidade.
Prof. Dr. Aécio Feitosa
Membro da Academia Tauaense de Letras ocupante da Cadeira N.º 15 tendo como patrono o Coronel Eufrásio Alves Feitosa, fundador da igreja de Arneiroz.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

HISTÓRIA DA ESCRITA

História da Escrita
Origem da Escrita, escrita cuneiforme e hieroglífica, origem do alfabeto, história da escrita na antiguidade, evolução da escrita, invenção da escrita na Mesopotâmia
Placa de Barro com escrita cuneiforme dos sumérios
Na Pré-História o homem buscou se comunicar através de desenhos feitos na paredes das cavernas. Através deste tipo de representação (pintura rupestre), trocavam mensagens, passavam idéias e transmitiam desejos e necessidades. Porém, ainda não era um tipo de escrita, pois não havia organização, nem mesmo padronização das representações gráficas.
Foi somente na antiga Mesopotâmia que a escrita foi elaborada e criada. Por volta de 4000 a.C, os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme. Usavam placas de barro, onde cunhavam esta escrita. Muito do que sabemos hoje sobre este período da história, devemos as placas de argila com registros cotidianos, administrativos, econômicos e políticos da época.
Os egípcios antigos também desenvolveram a escrita quase na mesma época que os sumérios. Existiam duas formas de escrita no Antigo Egito: a demótica (mais simplificada) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e símbolos). As paredes internas das pirâmides eram repletas de textos que falavam sobre a vida do faraó, rezas e mensagens para espantar possíveis saqueadores. Uma espécie de papel chamada papiro, que era produzida a partir de uma planta de mesmo nome, também era utilizado para escrever.
Já em Roma Antiga, no alfabeto romano havia somente letras maiúsculas. Contudo, na época em que estas começaram a ser escritas nos pergaminhos, com auxílio de hastes de bambu ou penas de patos e outras aves, ocorreu uma modificação em sua forma original e, posteriormente, criou-se um novo estilo de escrita denominado uncial. O novo estilo resistiu até o século VIII e foi utilizado na escritura de Bíblias lindamente escritas.
Na Alta Idade Média, no século VIII, Alcuíno, um monge inglês, elaborou outro estilo de alfabeto atendendo ao pedido do imperador Carlos Magno. Contudo, este novo estilo também possuía letras maiúsculas e minúsculas.
Com o passar do tempo, esta forma de escrita também passou por modificações, tornando-se complexa para leitura. Contudo, no século XV, alguns eruditos italianos, incomodados com este estilo complexo, criaram um novo estilo de escrita.
No ano de 1522, um outro italiano, chamado Lodovico Arrighi, foi o responsável pela publicação do primeiro caderno de caligrafia. Foi ele quem deu origem ao estilo que hoje denominamos itálico.
Com o passar do tempo outros cadernos também foram impressos, tendo seus tipos gravados em chapas de cobre (calcografia). Foi deste processo que se originou a designação de escrita calcográfica.

SONETO

ATO DE CARIDADE

Ouvi este soneto em 1973, em Tucson-Arizona, declamado repetidas vezes por Dona Rita Thomaz Barroso, sobrinha do Príncipe dos Poetas Padre Antônio Thomaz e mãe de minha querida colega Dra. Ângela Thomas Barroso.

Como a autoria era por mim desconhecida, atribuí que a poesia fora de D. Dinorah Thomaz (Poetisa irmã de D. Rita), ou do próprio “Tio Padre” como ela dizia.
O fato é que, antes de 3 enfartos do miocárdio e duas cirurgias de revascularização, além de uma CIT (crise isquêmica transitória – um pequeno derrame cerebral), minha memória era fenomenal o que me fez com que memorizasse imediatamente o soneto, o qual passo aos amigos na esperança que ele não venha a desaparecer.

Acadêmico Franco Feitosa
-cadeira No. 21 da Academia Tauaense de letras-

Ato de Caridade

Que eu faça o bem e de tal modo o faça
Que ninguém saiba o quanto me custou
Mãe, espero de Ti mais esta graça:
Que eu seja um bom sem parecer que sou.

Que o pouco que me dês me satisfaça
E se do pouco mesmo algum sobrou
Que eu leve essa migalha onde a desgraça
Inesperadamente penetrou

Que à minha mesa, a mais tenha um talher
Que será, minha Mãe Senhora Nossa,
Para o pobre faminto que vier.

Que eu transponha tropeços e embaraços
Mas, que eu não coma sozinho o pão que possa
Ser partido por mim em dois pedaços

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

ARTIGO

O JANGADEIRO
Indômita coragem brilhava no olhar do rude jangadeiro que, postado junto à praia, ouvia o marulhar das ondas, contemplando o horisonte q’se estendia limpido, apresentando naquella tarde o azul esmaecido dos dias hyemaes.A jangadinha veleira balouçava-se nas vagas parecendo adornar à carícia forte do oceano e mais longe o navio aguardava os passageiros que demandavam as plagas do Sul.Uma leva de escravos, escoltada pelo sinistro mercador de carne humana, aproximava-se tristemente.Braços unidos, corações despedaçados, os miseros envolviam um ultimo olhar para as areias alvejantes da terra da patria que iam deixar para sempre. Lágrimas profusas brilhavam naqueles rostos onde a fatalidade estampara desde o berço o ferrete da maldição de Cham.O que os esperava nas paragens do Sul? O engenho, o trabalho forçado, a tarimba, a minguada ração, o azorrague do feitor cruel, o opróbrio, a miséria enfim!Ali a escravidão ainda era mais negra!...E se aproximavam os míseros da praia, enquanto o marulho das ondas quebrava a monotonia da tarde que passava.O filho do mar compreendeu a extensão daquela dor que extravasava em prantos; olhou a casaria branca de Fortaleza sombreada de coqueiros, iluminada pelos revérberos do sol triunfante que afugentara as nevoas hybernaes. Um grande sentimento de compaixão ergue-se-lhe no intimo; a revolta da consciência sobrepujou ao dever de jangadeiro.Sugestionou aos companheiros a greve mais honrosa que se tem registrado na historia da humanidade e o brado vibrante que imortalizou o seu nome suplantou os protestos do negociante negreiro que não queria ser estorvado no seu comercio vantajoso.Como um clarim apregoando as harmonias da liberdade saiu dos lábios do “Dragão do Mar” o grito humanitário e potente: “Neste porto não se embarca mais um só escravo!”
F. Clotilde. Folha do Commercio. Aracati, 26/03/1911.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

SONETO

NO CALVÁRIO (F. Clotilde, Ao Frei Marcelino de Mornico, março de 1915).

Ergue-se a cruz no monte! As sombras lutulentas
De um eclipse de sol a terra toda envolvem;
Tudo sofre e se agitam, as pedras se revolvem,
E mortuárias visões, das tumbas surgem lentas.

Aqui e ali se veem criaturas malicentas
Que mesmo na aflição os seus olhares volvem
Para o Mártir divino, a blasfemar cruentas
E outra há que a adorá-lo, enfim já se resolveram.

Um gorgeio não se ouvem... A turba emudecida
Em face da tragédia horrorosa, deicida.
Desvenda o mundo inteiro, o mais triste cenário.

Somente o amor de mãe, inquebrantável, forte,
Não vacila, e resiste ao suplício, a morte.
Brilhando como o céu, nas trevas do calvário.
Contribuição: Acadêmica Anamélia Mota

domingo, 19 de agosto de 2007

VOTOS

Luiz Borges, 80 anos
Acadêmico Antonio Viana

A sociedade tauaense, mas, sobretudo, os mais pobres (já que com o seu espírito altruísta é amado de um extremo a outro), une-se nesta data, em profundo sentimento de alegria e festa pelos 80 anos do conhecidíssimo Luiz Borges (Luiz Gonzaga Lima). Da tradicional família de Tauá, os Lima, ficou conhecido como "LUIZ BORGES”, por sua atuação nos anos 60 e 70 (ou até um pouquinho antes), ao lado do comerciante-farmacêutico Manoel Trajano Borges. O nosso homenageado de hoje é um desses amigos de primeira hora, dos meus avós (dona Sinhá e "Seu" Emídio; dos meus pais (sobretudo, papai, Abrahão Scarsela de Carvalho - que me lembro, comprava sempre os remédios na Farmácia Araújo e quem atendia era Luiz Borges, ou na Farmácia Neuman, do saudoso amigo Alcides Feitosa. Nessa relembrança, gostaria de em nomes dos tauaenses, cumprimentar Luiz Borges, que nesta segunda-feira, 13, completa 80 anos. Completamente lúcido e atuante, ainda participa de atividades da maçonaria na Loja São João do Príncipe, que fundou em 1955, sendo o seu Terceiro Venerável.

Família linda

Em recente momento, o aniversariante posou, ao lado das filhas Luiza Helena, Ângela Maria, Marta Eugênia, Maria de Céu e Pedro Luís. O nosso homenageado nasceu no dia 13 de Agosto de 1927, de tradicionais famílias Feitosa e Lima, de Tauá e dos Inhamuns. Começou a trabalhar muito cedo com o casal Dr. Manoel Trajano Borges e Antonia de Araújo Borges, "que vieram se estabelecer em Tauá com a Farmácia Araújo”, conta ao colunista uma de suas filhas. Casou-se com Francisca Araújo (Lily), já falecida, com quem teve os filhos anteriormente nominados.

História de muito sucesso

Luiz Gonzaga Lima, o nosso Luiz Borges, era um "agitador" em favor de Tauá e da alegria. Muito festeiro, foi Rei Momo nos tradicionais carnavais do Tricy Clube. Com os saudosos João Firmino de Araújo, José Nogueira (Zeca), Moacir Marques, Jorge Dias, Flávio Alexandrino, Jorge Massilon, João e Antonio Paes Ribeiro fundou a loja maçônica de Tauá, em 1955 - sendo o seu terceiro Venerável Mestre a freqüentador até hoje da Loja São João do Príncipe (1º nome de Tauá). Flamenguista ferrenho, adora futebol e com o amigo Lemos Dias participou da fundação da Liga Desportiva Tauaense.

Irmãos e hábito

Aqueles que viveram os anos 60/70 em Tauá, (vim pra Fortaleza em 1967) – se recordam que Luiz Borges (de largo sorriso), muito apegado à cultura e tradições da nossa terra, ainda culti­va o hábito de guardar e preservar fotos de tauaenses ilustres e fotos da cidade. De uma família numerosa, são seus irmãos: Luís Lima, Chagas Lima "Chaguinhas", Joaquim Lima, Nazinha, Naninha, Raimunda, Carmelina, Aderlô, Sara, Alcina e Adecy.

Tio-bisavô

O aniversariante de hoje, uma das figuras mais queridas em Tauá, é tio-bisavô da Primeira Dama do Estado, dona Maria Célia, pois, irmão do saudoso comerciante Luiz Alves Lima (pai da Maria Célia, avô da primeira dama), que é sobrinha do nosso Luiz Borges. Entre os seus sobrinhos, alguns de destaque: em Tauá, foi prefeito, José da Costa Leitão Lima; em Fortaleza, o grande cancerologista Pedro Wilson Leitão Lima. Portanto, hoje é dia da festa para todos os seus filhos, genros, nora, netos e bisnetos. São genros: César Haddad (Luiz Helena), Egberto Feitosa (Ângela), Ivan Nunes (Marta Eugênia), Eymar Cavalcante (Maria do Céu) e nora Marta Feitosa (Pedro Luís).

sábado, 18 de agosto de 2007

SONETO

UMA LEMBRANÇA (Úrsula Garcia, Mulheres do Brasil, 1971)

Eu quis levá-la ao cemitério, um dia,
Mas em casa disseram: Tão criança
É tão longe!... É tão triste!... Eu insistia,
Não sabes o que é tristeza, ela, e não cansa!

A manhã é tão linda! O sol radia,
O ar é tão puro, a brisa fresca e mansa...
E um passeio ao campo. Não faria
Maal algum visitar quem lá descansa...

E eu pensava: È melhor ir caminhando,
Com seus pesinhos , rindo, conversando,
Voltar da cor das rosas que levou...

Não foi comigo... Mas foi levada
Nima manhã de sol... muda, gelada,
Lívida, inerte... E nunca mias voltou!

Contribuição: Acadêmica Anamélia Mota

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

CRÔNICA

Testemunho de uma devoção
Michel Pinheiro

Tem-se por sagrado o exercício da maternidade. As tarefas se mostram pesarosas, mas dão indescritível e enigmático prazer. A natureza deu inexplicável sensibilidade às mulheres para que desempenhassem diversas funções ao mesmo tempo – verdadeiras divindades. Espanta a forma de como conseguem ser profissionais, de como gerem as tarefas de casa, de como atuam como mães - a mais delicada, por certo, e de como são, ainda, esposas, em seus diversos sentidos. Pedindo permissão para falar de um perfil que se enquadra em respeitável maioria das mães brasileiras, vejo um exemplo notável. Ela é a última de prole numerosa de treze rebentos - dos quais três ausentes dado o pouco tempo de luz. Sua personalidade revelou, desde cedo, formação com valores religiosos e morais rígidos, capazes de torná-la como é hoje, em padrão de comportamento quase sectário. Na profissão procura adotar regras de experiência baseadas nos conceitos colhidos em sua existência, sempre permeando o bom senso. Suas decisões sempre são tomadas considerando a possibilidade de serem implementadas, vetor também extensivo às tarefas corriqueiras do lar. O máximo de prudência é tônica certa em seu comportamento. É exemplo de mulher admirável, portanto. A mais elaborada função que exerce é a materna. Com duas crias cuidadas com excelência – um casalzinho lindo, ela apresenta-se como o modelo de mãe almejado por qualquer filho que quer ter futuro. Zela pela aparência das crianças, por sua saúde física e mental – busca sempre deitar sua atenção em detalhes do comportamento deles. Impressiona o cuidado com a administração dos medicamentos aos pequenos. E consegue conviver com outros motivos de preocupação: os estudos dos meninos, pois procura não poupar na educação formal; a segurança deles, buscando sempre recomendar incansavelmente qualquer um que queira assumir uma tarefa periférica cotidiana. Os filhos são, assim, a prioridade das prioridades. As atenções, quase em sua totalidade, são voltadas para eles, coisa que ela faz com muito prazer - e faz muito bem. Mas o dia não tem muitas horas e ela sabe disto. A última função não terá comentários agora. Não agora...

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A MULHER NA FAMÍLIA

A Mulher na Família
Por F. Clotilde
É no lar, santuário íntimo de seus mais puros afetos que a mulher deve ostentar verdadeiramente a bondade a ternura de seu coração, tornando-se o anjo da guarda do esposo e dos filhos e lhes inspirando o bem e a virtude. A natureza dando à mulher uma constituição fraca e um temperamento nervoso não a destinou à vida da luta, no seio da sociedade, entregue às agitações e ao afã dos negócios; reservou-a como uma relíquia mimosa para a família, para aformosear este pequeno mundo intimo, onde ela tem de exercer sua benfazeja influência no tríplice papel de filha, esposa e mãe.
Com efeito, se ela ultrapassando o limite que lhe foi traçado por mãe sábia e previdente atirar-se ao torvelinho do mundo, entregando-se à vida tumultuária que só compete ao homem, gastará as forças e cairá extenuada sob o peso da difícil tarefa que empreendera, sem ter realizado o ideal que aspirara e conhecendo talvez muito tarde que não era este o seu papel.
Há flores que se desenvolvem na liberdade do campo; há outras, porém, que apenas nos limites de um jardim e cultivadas por mão hábil podem crescer e desabrochar.
A mulher assemelha-se a essas últimas flores, e no recinto da família, cercada dos cuidados dos entes que a idolatram, e por sua vez enchendo-os de desvelos e solicitude é que pode mostrar a exuberância de seu coração e a beleza de sua alma.
Houve, porém, mulheres que se imortalizaram por feitos gloriosos e que a história nos apresenta como verdadeiras heroínas.
Desde os mais remotos tempos, quando a humanidade no embrião da civilização lutava ainda com as trevas do obscurantismo, a mulher surgiu iluminada por um esplendor divino patenteando o poder e a força irresistível de sua fraqueza.
Todos os vultos femininos que admirarmos na história antiga podem ombrear com as heroínas da Idade Média e com as mulheres célebres da nossa época, nas quais a civilização imprimiu um beijo de luz.
Se Judith embebeu na garganta do opressor dos judeus o punhal homicida, Roland emaranhou-se na política para destronizar um rei pusilânime e aclarar a Franca com o sol da liberdade, e servindo-se do gládio de sua pena inspirada com ela acutilou o despotismo e a tirania.
Seria longo repetir os nomes dessas mulheres que se imortalizaram, mas não teremos entre nós outras heroínas iguais a essas que arrastadas pela força do gênio se atiraram na arena da luta por amor de uma idéia, ou pelo fanatismo de uma causa?
Sem sair da doce obscuridade do lar não poderá certamente a mulher figurar na história, ao lado do homem como o protótipo de virtudes cívicas; porém que melhor celebridade para ela do que reviver eternamente no coração de seus filhos, adorada, reverenciada como um modelo de virtudes e boas qualidades?
Que melhor glória do que educar futuros cidadãos que saibam honrar a pátria e engrandecê-la com o mérito que sempre resulta das boas ações?
Na família é a mulher a companheira do homem, a educadora dos filhos.
Portanto não deve esquecer nunca que dela dependem a felicidade e o futuro das tenras criaturas que nela se revêem como em um espelho que deve refletir as mais belas e puras imagens; que lhe cumpre velar incessantemente para desenvolver o bem naqueles corações ingênuos e inexperientes, procurando todos os meios para depositar neles o gérmen que deverá produzir no decurso da vida bons e salutares frutos.
Uma mãe lê na alma dos filhos com uma perspicácia, verdadeiramente admirável.
Uma língua que balbucia, uma face que cora, um olhar que se perturba são para ela indícios de uma má ação que é preciso conhecer e cuja repetição deve ser evitada para que não traga serias conseqüências.
Então, com a doçura que só ela possui, com essa previdência quase divina, segue os passos vacilantes do filho e cercando-o de uma prudente vigilância consegue desviá-lo do mal.
O menino molda-se à sua vontade, à sua influência e guiado pelo amor solícito e desvelado que ela lhe dedica cresce nas melhores disposições, e tornando-se homem, se encontra na esposa a mesma ternura prossegue na senda do bem, da qual só o poderão afastar o turbilhão de paixões desencadeadas e furiosas.
Ele pode resvalar uma vez, mas é sustido à borda do abismo por uma angélica e carinhosa mão. Retrocede, e vai buscar no asilo que abandonou um instante o esquecimento de sua loucura.
A mulher digna de sua nobre missão transforma o lar em um paraíso e consegue com um sorriso desviar dele todas as aflições, desterrar todas as tristezas.
Com uma acenada economia mantém o equilíbrio dos negócios domésticos, e coloca as despesas ao nível dos meios de que o marido pode dispor.
Desdenha os ornatos frívolos, e faz das boas maneiras e das graças que dá a educação a par da amabilidade, o seu principal adorno.
Encarrega-se de instruir o espírito dos filhos, e para isso deve possuir uma boa soma de conhecimentos úteis e uma instrução aprimorada.
Nos agradáveis serões familiares entretém com os dotes de sua inteligência o prazer e a união, evitando assim que o marido e os filhos vão procurar freqüentemente em outra parte as distrações que podem ter ao lado dela, e em um delicioso conchego solidifica o edifício de sua felicidade, e estreita cada vez mais os laços formados pelo sangue e pelo amor.
Não quero dizer com isto que ela se abstenha de freqüentar a sociedade e que se encerre em casa, o que seria monótono e fastidioso.
Deve pelo contrário cultivar boas relações, tendo, porém, o máximo cuidado em escolhê-las, porque assim como uma amiga sincera é um tesouro de raro valor, também uma amiga fingida é uma serpente que mais cedo ou mais tarde inocula o veneno de sua alma naqueles com quem convive.
A boa esposa auxilia em todas as ocasiões com prudentes conselhos o companheiro de sua vida, e nunca o inibe de tornar-se útil á sociedade e a seus semelhantes por um exagerado egoísmo e um excessivo afeto mal entendido.
É ela a primeira a dizer-lhe o que deve fazer, e tornar fácil o que lhe parecia difícil, a compartilhar as decepções e prazeres que lhe sobrevenham nas alternativas da vida, sendo sempre a amiga desvelada e carinhosa pronta a derramar gota a gota o amor que se alberga no seu coração sobre a existência daquele a quem ligou a sua.
Não será mil vezes mais glorioso desempenhá-lo e fazer da criança um homem útil à pátria e à família do que sentar-se nos bancos de academias em busca de um pergaminho, ou acompanhar os vaivéns da política, duende fatal que deve amedrontar até os animais varonis?
Não será mais proveitoso para a mulher entreter-se horas e horas a cuidar das lides domésticas e a velar pelo bem estar da família do que entregar-se ao desempenho de cargos públicos, nos quais gasta a saúde e aniquila o espírito?
Longe vai felizmente a era obscura em que ela agrilhoada ao mais cruel preconceito e sob o jugo de uma lei bárbara era uma escrava, um simples objeto de luxo para o homem.
Hoje existe por si mesma, conhece seus deveres, pode dispor de luzes suficientes para não se perder na noite da ignorância, e fazendo do lar o seu mundo, concentrando na família as suas mais caras aspirações viverá feliz e fará a felicidade dos outros.
Educai, pois, a mulher, ajuntai aos dotes naturais que a embelezam os encantos de um espírito cultivado, avigorai-lhe os bons sentimentos, tornai-a enfim digna de educar os filhos e prepará-los para a vida completa, e ela será um diamante de inexcedível valor, a lâmpada maravilhosa a espargir luz em torno do lar, a fonte de onde dimanarão a prosperidade e a ventura de família.
F. Clotilde B. Lima. A Quinzena, n. 5 e 6. Fortaleza, 15 de março de 1887 e 30 de março 1887, p. 40 e 47-48.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

POEMA DO OUTONO


DIMAS MACEDO
dimacedo@pge.ce.gov.br

Pede-me, Almircy Pinto, que eu examine o seu conjunto de poemas inéditos. Mas deixa claro – muito claro, mesmo – que não aspira aos louvores do reconhecimento. Fala-me que na família já existe o autor de Circo Encantado (1976) e de Carta do Pássaro (2004). E que Barros Pinho não seria a pessoa mais isenta (ou a mais indicada) para avaliar a sua criação, no contexto da arte literária.
Esquece, no entanto, Almircy, que alguns dos seus versos já foram musicados e que ele, para sua honra, é filho de um homem de indiscutível alma de poeta, que sempre pautou a sua vida para o exercício humanitário do bem e para os valores da política fundada na ética e na verdade. E que é descendente, pelo sangue de Dona Senhorinha Aracy, de uma estirpe de intelectuais da mais alta expressão e reconhecimento.
Seu pai, o Senador Almir Pinto, é bisneto de Fideralina Augusto e sobrinho-neto de Nogueira Accioly. Além de político e médico de renome, sobressaiu-se como retor primoroso e autor de livros e opúsculos sobre questões sociais da maior relevância. O Parlamento em Versos (1984) constitui o livro no qual condensou a sua produção de poeta.
João Clímaco Bezerra, Prisco Bezerra, Irmã Paula Bezerra, Pery Augusto Bezerra, Hylo Bezerra Gurgel, Raul Bezerra, Luiz Gonzaga Alves Bezerra, Vicente Bezerra Neto, Roberto Cláudio Bezerra, Maria Arair Pinto Paiva e Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra – estão entre os intelectuais e escritores, com os quais, a Família Bezerra, da cidade de Lavras, serviu à literatura, à política e à magistratura do Ceará e do Brasil.
Almircy, em quase tudo, me parece uma síntese da linhagem política do seu pai e dos pendores com que o intelecto ungiu os seus familiares pelo lado materno. No Ceará tem assumido a política enquanto serviço público e estratégia, enquanto vocação e exercício sereno da inteligência.
Sei que os leitores, com certa procedência, estão me perguntando se Almircy é poeta. E por que uma marca (ou talvez um símbolo), na ancestralidade de um homem, pode definir a sua condição. Respondo que não é sobre isto que estou falando. Aliás, no campo da criação e do juízo, um pouco do emblema divino, ou um tanto, não muito menos, de luz e de mistério, se fazem, no geral, o maior de todos os acertos.
Almircy Pinto é poeta, sim, sendo, no entanto, um poeta da solidão e do afeto; um poeta da resignação e da beleza; um poeta da ternura e da vida a dois compartilhada; um poeta do espanto e da grande realização do desejo.
Asas da saudade, lírios e estrelas do cotidiano, braços em busca da amplidão e do caminho, corpos que se rendem e se aninham e nuvens que voam pelo céu da boca e se condensam – são traços com que se firmam a escansão poemática e a construção literal e estrófica destes musicais Poemas do Outono.
Neste seu livro de estréia – impõe-se que aqui se registre – Almircy Pinto se assume poeta na melhor acepção do vocábulo: é lírico, genuinamente lírico e defensor da melopéia e da palavra ritmada como recursos extremos na construção da poesia de boa qualidade.
A melopéia, quando se harmoniza ou quando se conjuga com a lírica, gera o milagre da partitura musicada ou da escansão que se pauta na sinfonia sublime do silêncio.
Este livro – Poemas do Outono –, enquanto ponto de partida do desejo, em busca da solidão e do afeto, se adequa a este postulado: constitui um conjunto de letras ritmadas, que se transmutam em peças literárias de alcance sonoro e polifônico.
Sei que a poesia se faz com palavras e não com idéias. Sei que uma letra não é um poema, assim como ninguém é obrigado a fazer um poema escrevendo uma poesia de boa fatura literária.
E o autor deste livro, Sebastião Almircy, ainda não sendo um escritor de carreira, é um bom ouvinte das palavras. Não sei se um dia ele será um músico de talento. Mas um poeta, com certeza, ele já o é, com acentos na melhor leveza da palavra. E com esta afirmação, creiam os leitores deste livro, eu não tenho receio de errar. Ou de perder a minha condição de crítico e de poeta.

sábado, 4 de agosto de 2007

SONETO VITÓRIA RÉGIA

VITÓRIA RÉGIA ( Prisciliana Duarte de Almeida, Mulheres do Brasil, 1971)

A supefície do Amazonas mora,r
Na majestade que ninguém descreve,
Uma flor que ao se abrir é cor de neve
E empós se tinje do rubor da aurora.

Rainha excelsa e colossal da flora,
De rimavera eterna é um riso breve...p
Sobre ela um giro, em púrpuras, descreve
O bando de guarás por céu em fora!

Toda a grandeza tropical resume!
Até que o sol, bebendo-lhe o perfume,
Em nuvens de ouro e de rubis se ponha!

E, como um sonho lindo, à flor das águas,
Paira a Vitória-régia, à qual as mágoas
Segreda, mudamente, uma cegonha.

Contribuição: Acadêmica Anamélia Mota

DISCURSO DO ACADÊMICO JOÃO...

DISCURSO PROFERIDO EM SESSÃO ESPECIAL DA ACADEMIA TAUAENSE DE LETRAS, EM 01/08/2007.



Exmª Srª Prefeita Municipal de Tauá
Drª Patrícia Aguiar
Ilmº Sr. Presidente da Academia Tauaense de Letras
Prof. João Geneilson Gomes Araújo
Caro confrade
Prof. Aurélio Rodrigues de Loiola
Senhoras e senhores.


O escritor português Fernando Pessoa escreveu que “o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

Seguindo essa ótica, o nosso caro confrade Aurélio Rodrigues de Loiola, em seus livros, em suas poesias e em seus artigos, valoriza o sentimento humano, reconstitui momentos, reverencia o amor, prega a paz, enaltece a ética, destaca a família, evidencia a sua crença cristã e mostra grande devoção a sua terra natal. Como afirmei em outras oportunidades: Aurélio é, na prática, o embaixador de Tauá nos demais estados brasileiros e no mundo.

“Historinhas do sertão para meus netos” me fez lembrar uma das letras de Padre Zezinho (de longe, ao meu juízo, o maior compositor brasileiro no gênero religioso, exatamente porque sabe associar o louvor a Deus a aspectos sentimentais, familiares e corriqueiros). Aurélio, com esta sua nova obra, mostra toda sua grandeza de espírito ao se dedicar às crianças, ao se lembrar de seus netos e ao recordar os hábitos sertanejos (de Coroá, de Bezerros, de Trici e de Tauá). Assim sendo, cito um trecho de “Utopia”, do Padre Zezinho, que se identifica com o nosso Aurélio: “Das muitas coisas de meu tempo de criança / guardo vivo na lembrança/ o aconchego do meu lar / no fim da tarde quando tudo se aquietava / a família se juntava / lá no alpendre a conversar. [...] Correu o tempo e hoje eu vejo a maravilha / de se ter uma família / quando muitos não a têm [...]”.

Receba, Professor Aurélio, de mim, de Elizângela e de João Héricles, os nossos votos de profunda admiração, exatamente pelo que você é: uma extraordinária figura humana.

Muito Obrigado!


João Álcimo Viana Lima
Cadeira nº 5 - ATL

segunda-feira, 30 de julho de 2007

DISCURSO JOÃO ÁLCIMO

DISCURSO PROFERIDO NA ACADEMIA TAUENSE DE LETRAS, EM 28/07/2007

UM DEVOTADO

As representações da sociedade civil, quer seja por entidades classistas, filantrópicas, corporativas e de outra natureza, estão vinculadas ao senso e à prática democrática e aos fundamentos republicanos. Afinal, na ótica de Montesquieu, a república tem como virtude essencial o bem público, cujo sentimento passa pela devoção do indivíduo à coletividade.

Criar e integrar, com denodo e entusiasmo, entidades de caráter associativista e sem fins lucrativos, requer, sobremaneira, uma devoção de coletividade. Trata-se de uma missão deveras relevante para o fortalecimento das instituições, da sociedade, da democracia e da República, mas que muitas vezes é incompreendida e injustiçada.

a nossa juventude não sabe, tampouco a nossa intelectualidade não se apercebeu (não por desprezo deliberado, mas por seguir uma tradição de visualizar àqueles e àquelas que ocupam cargos remunerados por delegação popular, pela via do concurso ou por indicações), mas em Tauá temos uma personalidade digna de honrarias, haja vista a sua inestimável devoção coletiva, materializada por um currículo repleto de ações que vão desde representação empresarial à representação sócio-beneficente.

Falo de Manoel Almeida Neto (o “Seu” Netônio). As marcas de sua devoção e de sua vocação estão na Associação Comercial e Empresarial de Tauá, na União Artística Tauaense, na Associação dos Moveleiros e Carpinteiros de Tauá, no Grupo de Apoio de Criação do CECITEC, no Instituto de Educação, Ciências e Tecnologia da Região dos Inhamuns (INECRI), na Fundação Bernardo Feitosa, nos Agentes Patrimoniais, no Lions Clube, na Loja Maçônica São João do Príncipe nº 27, na Fundação Padre Cícero, na Sociedade Espírita de Tauá, no Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe, no Comitê de Combate à Dengue, na Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE), no Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, no Conselho da Criança e do Adolescente, na Cooperativa de Desenvolvimento Agropecuário de Tauá Ltda. (COODATA), no Conselho Municipal do Trabalho, na Academia Tauaense de Letras, no Trici Clube de Campo, no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, no Instituto de Desenvolvimento, Ação e Cidadania (IDAC), na Rádio Difusora dos Inhamuns e em diversas comissões julgadoras.

É, meus caros confrades e minhas caras confreiras, é provável que todos tenham perdido as contas da participação de Netônio em entidades. O que é fato é que suas marcas (com atitudes e letras) inclusive como fundador e como presidente e diretor de várias delas, estão gravadas em nossa história, que podem vir a lume por meio de fontes primárias/documentais e de depoimentos de seus signatários. Todavia, em respeito à nossa história e à nossa memória, o trabalho devotado de Netônio e o papel das instituições não governamentais precisam ser pesquisados por nossa intelectualidade e por nossa entidade composta por letrados. Caso contrário, os testemunhos podem se destruir com o tempo.
É por isso que na véspera de seu 71º aniversário é que presto esta homenagem ao nosso confrade e sócio-fundador desta Academia, Manoel Almeida Neto. E julgando oportuno e merecedor, encaminho à Presidência desta egrégia Casa, em conformidade com parágrafo 1º do Art. 45 de nosso Regimento, a outorga de uma comenda a este nosso grande confrade, considerando os seus relevantes serviços prestados em favor da coletividade.

Ademais, rogo ao Grande Arquiteto do Universo, para que Netônio permaneça com suas virtudes, conhecidas por nós e que o tornam grande: sobriedade, seriedade, compromisso e devoção coletiva.


Muito Obrigado!

João Álcimo Viana Lima
Cadeira nº 5 - ATL

terça-feira, 17 de julho de 2007

SONETO AURÉLIO LOIOLA

TAUÁ (Aurélio Loiola, Acontecência, Fev. de 2003)

Sou de Tauá eterno apaixonado
Amante do sertão como ninguém
Eu sempre serei mui afeiçoado
A terra de onde vim, e do meu bem.

Sonhos mais lindos sonhos coloridos
Pastagens, animais, roças em flor –
Milho, algodão, feijão, arroz florido,
De galhos em galhos, aves, beija-flor...

Do passado distante inda presente,
Muita, muita saudade a gente sente,
Como da meninice o aniversário:

Bolo, bola, peteca, cirandinha,
Da fazenda da vovó Senhorinha,
De minha mãe as contas do rosário.

SONETO HUGO VICTOR

CONTRIÇÃO (Hugo Victor, História da Literatura Cearense)

Eis-me, Senhora, aos vossos pés, cativo,
Prosternado a chorar os meus pecados,
O homem vilho, que foi soberbo, altivo,
Com amores e paixões desordenadas.

A um simples olhar vosso, compassivo,
(olhar que é luz e inflama os desgraçados),
Tornou-se humilde, e ei-lo redivivo
Para vós, com os sentidos ordenados.

Que eu possa agora, Santa Mãe, contrito
Encarar, face a face, o mundo estuto,
Em cujas plagas foi proscrito.

Creio em vós, e essa crença é segura,
Que me leva, no ardor do vosso culto,
As delícias da Bem-aventurada.

Contribuição:
Anamélia Mota

quinta-feira, 28 de junho de 2007

DISCURSO LEONARDA FEITOSA

Leonarda do Vale Feitosa e Castro (mãe)
Cadeira nº. 19


Ilustríssimo Senhor Presidente desta Academia Tauaense de Letras, autoridades presentes, meus conterrâneos, senhores, senhoras e jovens presentes.

Sinto-me por demais honrada em participar deste grandioso evento.
Jamais pensei, que a simplicidade dos meus livrinhos, me levassem a galgar tão elevado degrau no seio desta academia.
Reconheço que a grandeza da minha querida “Avó paterna” D. Luiza Linda da Costa Leitão Feitosa iluminou meus passos por onde passei.
E copiando o grande Genealogista da nossa família: Sr. Leonardo Feitosa. (de Arneiroz), apenas procurei repassar aos meus netos, bisnetos e descendentes, a nossa história, os nossos úzos e costumes.
Agradeço a Deus, por mais uma promoção, e aos “Albertos”. Primeiro o médico, bom amigo e humanitário e, hoje ao “Alberto Sobrinho”, bacharel, honrado, culto e bonito.
E lembrando Drumont de Andrade, espero que nunca apareçam pedras no caminho desta conceituada Academia Tauaense de Letras, dando continuidade a cultura e educação dos tauaenses. Este é o nosso objetivo.

DISCURSO LUIZ FALCÃO

DISCURSO DE POSSE DO MEMBRO CORRESPONDENTE
Luiz Carlos Falcão Lordelo
Membro Correspondente
Cadeira nº. 05


É com imenso prazer que hoje recebo das mãos do presidente da Academia Tauaense de Letras, o acadêmico João Geneilson, o diploma de acadêmico membro correspondente, ocupando a cadeira de número 05 que pertenceu ao ilustre acadêmico Antônio Carlos Barreto, filho dos Inhamuns e desta cidade, escritor, poeta, cronista, pertencente da ilustre família dos Barreto.
A Academia Tauaense de Letras tem como iniciativa a preservação e a difusão da língua na sua forma culta e a acessibilidade da produção literária dinamizando e popularizando a literatura elitista. Prefaciando Machado de Assis onde destaca que “a literatura não é para qualquer um, e sim para quem tem o poder intelectual de interpretar”. Contrário a essa ideologia a Academia Tauaense de Letras vem quebrar esses paradigmas de inversalização literária, e de práticas inversas aos discursos daqueles que pregam uma ação literária elitista. Razão pela qual faço parte desta academia, como editor e produtor de livros, popularizando-se difundindo-os no intuito de promover a acessibilidade a todos; e rendo as minhas homenagens a todos os autores que disponibilizam seus escritos sob minha responsabilidade, como parceiros dessa difusão junto aos leitores.

Luiz Falcão Lordelo

quarta-feira, 27 de junho de 2007

BIOGRAFIA DIDEUS SALES

ANTONIO DIDEUS PEREIRA SALES, Poeta, Escritor, Radialista, Folclorista e Produtor Cultural. Nasceu no dia 02 de abril de 1962 na fazenda Várzea do Canto, Independência – Ceará. Filho de José Pereira Filho e Maria Cordeira Sales criou-se em Crateús, cidade mais desenvolvida da região noroeste do estado, onde estudou e começou trabalhar no rádio. No campo da literatura popular publicou os livros: Flores Vivas e Mortas (parceria com Hernandes Pereira – 1982); O Sertão de cabo a rabo (1985); Minha Terra, Minha Gente (parceria com Hernandes Pereira – 1986); Matuto do Pé Rapado (1987); Natureza, Paz e Poesia (parceria com Hernandes Pereira – 1990); Florescências (1991); Colheita de Versus (1994); O Sertão em Verso e Prosa (1999); Nos Cafundós do Sertão (2003); Veredas de Sol (2006). Transportou parte de sua produção poética para o áudio, lançando os CDs “Frutos Poéticos”, “Alma Brejeira” e “Cantilena” este último em parceria com o cantor e compositor Acauã.
Como Radialista trabalhou em várias importantes emissoras do Estado, destacando sua passagem pela rádio Difusora dos Inhamuns em Tauá, no biênio 1997/98. Como folclorista e produtor cultural realiza palestras e eventos em todo o Ceará e em outros estados da Federação. Dirige a revista “Gente de Ação”, veículo de divulgação cultural e política, que circula mensalmente no Estado. Pertence as seguintes agremiações: UBE – União Brasileira de Escritores – SP, Casa do Poeta Lampião de Gás – SP; Associação dos Poetas e Violeiros de Alagoas – Maceió; UBT – União Brasileira de Trovadores – RJ; Sindicato dos Radialistas Profissionais do Ceará, ACEJI – Associação Cearense de Jornalistas do Interior e Academia Camocinense de Letras.

terça-feira, 26 de junho de 2007

BIOGRAFIA BERNARDO DE CASTRO

Bernardo de Castro Feitosa
Patrono - Cadeira nº. 34

Doutor. Depois de formado em odontologia pela Faculdade de Medicina da Bahia, tendo por contemporâneo o Dr. Raul Leite, fundador do famoso Laboratório que tomou seu nome, o Dr. Bernardo bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Ceará em 1915, tendo por companheiro de Turma Leonardo Mota, Manuel Antônio de Andrade Furtado e o Desembargador Daniel Lopes, sendo este colega de <> e de Magistratura , e muito se estimavam. Nasceu em Cococi que, então fazia parte do Município de Tauá, era filho de José de Sousa Castro Feitosa e de D. Mariana Alves Feitosa. Faleceu em novembro de 1928, em Mombaça, onde desempenhava as elevadas funções de Juiz. Antes, exercera os cargos de Promotor Público em Barbalha e de Juiz em Independência e Tamboril.
Contribuição: João Geneilson Gomes Araújo

segunda-feira, 25 de junho de 2007

POEMA DIMAS MACEDO

Poema

Há uma hora em que nos decompomose
indefinidamente vagaimos
entre rosas de sangue.

Há uma hora em que nos despimos
e ocultamos o rosto
e velejamos pelas bordas do caos.

Há uma hora em que copiamos o sonho
e tecemos loas ao tempo
e nos rendemos exaustos.

Há uma hora em que não é possível
o compasso do corponem o corpo
se quer sua memória.

Há uma hora em que morremos
e uma hora em que o poema
se torna uma necessidade inarredável.

Dimas Macedo

segunda-feira, 18 de junho de 2007

SONETO SEBASTIÃO CAVALCANTE

DESCRENÇA E TREVA
(Sebastião Cavalcante - Tauá In: Revista Fortaleza, abril 1907.

Ali, represo ao pé de colossal barreira
Grande volume dagua, esparsa junto à vila,
Com flavo brilho de ouro enfeita-se e rutila
Do sol à projeção melífua, derradeira.

E o sol no ocaso imerge. A superfície inteira,
Dagua não mais tresluz serena, mui tranqüila.
Da noite já o sedal escuro vem cobri-la,
E enfim todo o esplendor esvai dessa maneira.

Se foge uma esperança, uma ilusão ou crença
Que temos, qual farol, na senda desta vida,
E assim foge seu brilho excelso num momento.

Vem-nos do desengano a espessa treva imensa
Também nossa alma cai descrente, amortecida,
No negro pesadelo, atroz desalento.

Contribuição:
Anamélia Mota

sexta-feira, 15 de junho de 2007

SONETO MÁRIO DA SILVEIRA

MEU VERSO (Mário da Silveira, 1916 In: Coroas de Rosas e Espinhos, 1922)

Meu verso é fruto de ouro e sangue ideal que tem
Como um jambo sem par, todo feito de mel,
Grego filtro pagão, onde o amoe e onde o bem
Transfiguram num beijo o mal da sorte infiel.

Tal um fino buril, tal um sonho também,
Tal o gérmen vital de um divino pincel,
Ele traceja um quadro irial da vida, sem
O dispersivo tom dos quadros a pastel.

Faça-o e bruno-o de cor. Mas quanto é duro o ideal!
Como é ruim perseguir, arrebol a arrebol,
Uma rima que foge à plástica imortal!

Meu verso é um Prometeu agrilhoado no chão,
Um reflexo de luz, um bocado de sol
Que pede a luz, que implora o sol da Perfeição.

Contribuição: Anamélia Mota

quarta-feira, 13 de junho de 2007

ENTREVISTA ADELAIDE GONÇALVES



Entrevistas Adelaide Gonçalves - As lutas sociais produziram suas formas próprias de comunicação e engendraram formas de combate à cultura hegemônica
Por Bruno Zornitta
Adelaide Gonçalves, é militante da esquerda social, historiadora, com interesses de pesquisa e trabalhos publicados na área de História Social, em conexão com História Social das Idéias. Participou do painel "Cultura a serviço de um projeto de sociedade", no 12º Curso Anual do NPC. É professora da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Aos jornalistas que se empenham em construir uma outra comunicação, voltada para os trabalhadores, Adelaide propõe: “Vamos estudar mais, ler mais o mundo à nossa volta. Vamos aprender fazendo a luta social. Vamos ajudar a recuperar o melhor do vocabulário dos precursores socialistas libertários: solidariedade, apoio mútuo. E, como estamos próximos do 8 de março, nos inspiremos na escrita afiada, na memória de nossas Louise Michel, Mary Wolstonecraft, Flora Tristan, Rosa Luxemburgo, Emma Goldmann e no exemplo das mulheres da Via Campesina que arrancaram as mudas da morte para semear a vida. [12.02.2007]

BoletimNPC- Quando se diz que alguém é "culto", para o senso comum, há uma referência à cultura dominante. No entanto, existe uma outra cultura, a cultura popular. Qual a importância desta cultura para a transformação social?
Adelaide Gonçalves - Há um rico e vasto repositório de registros da cultura das classes trabalhadoras desde o seu momento de formação. As pesquisas e estudos históricos que vêm se debruçando sobre este campo comprovam esta afirmação. As lutas sociais, de modo geral, produziram suas formas próprias de comunicação e engendraram formas de combate à cultura hegemônica. Para tomar o caso do Brasil, basta que se atente para o rico capítulo da imprensa dos trabalhadores; nascida em meio às transformações que experimentava o século XIX, capitaneadas pela intensa difusão de “idéias novas”, e por aperfeiçoamentos técnicos que encurtavam de forma vertiginosa as distâncias entre as pessoas, a imprensa dos trabalhadores é uma das mais notáveis expressões da vida dos homens e mulheres que tiveram o seu dia-a-dia marcado pelas vicissitudes do mundo do trabalho. Cumpre destacar nesta imprensa suas dimensões de formação, mobilização, educação e combate. No jornal operário, em perspectiva histórica e apropriado em sua dimensão de documento-fonte-memória – é possível recuperar um largo painel do mundo dos trabalhadores e de sua cultura.
É de se notar que as práticas do associativismo estiveram desde logo combinadas aos mecanismos de auto-esclarecimento: escolas, ateneus, conferências, teatro social, formação de bibliotecas populares, cinema, hinos, estandartes, poesia social, salas de leitura, traduções, bandas de música, - um vasto índice da resistência criativa e da experiência da classe construindo uma contracultura da resistência, da criação cultural como exercício da crítica anticapitalista.
Pouco a pouco, o mosaico das pesquisas vai compondo um largo inventário dessas práticas sociais , inclusive para além dos locais de trabalho, pois é certo que outros espaços de convívio e troca de idéias vão se fazendo. Sinais desta construção no campo da cultura estão presentes nas livrarias, sebos e tertúlias literárias, na aula noturna, na conversa nos cafés, nas discussões em volta da mesa do botequim, nos balcões das bodegas e mercearias, na ida ao mercado e às feiras, na conversa trocada, atrás do balcão, com um ou outro caixeiro mais letrado, nas quermesses. São lugares/momentos, em que a camaradagem vai sendo forjada nos bancos de praça, em volta do coreto, no passeio público, na ida dominical à missa e na visita aos parentes, quando se atualizam as conversas. Na procissão no dia do santo da devoção, nos comícios, nos meetings, nas demonstrações do primeiro de maio, nos festivais operários, na ida ao cinema, nas representações dos grupos amadores de teatro, na formação dos times de futebol. Enfim, são lugares/momentos, repito, de socialização, congraçamento, construção de identidades, afirmação de diferenças e, eventualmente, de (in)formação sobre o mundo que existe além do que a vista alcança.
BoletimNPC- E a cultura de massa, você acredita que ela serve hoje como instrumento de dominação? Seria correto afirmar que o Brasil é um país ocupado culturalmente, que existe um imperialismo cultural?
Adelaide - Basta que se analise em perspectiva de longa duração a história trágica da dominação européia desde o século XVI neste vasto continente. Bem vistas as coisas, terá sido a imposição, a rapina, a destruição, o roubo, o desmanche, o transplante de signos culturais .... Mais avança o capitalismo em suas formas de mundialização, mais se aprofundam seus mecanismos de dominação, mais sofisticada e diversa sua operação de moldar corações e mentes. É preciso situar com propriedade esta longa história da dominação, para que não se olvide a construção da história “desde abaixo” , para usar a certeira expressão de Edward Thompson; os conflitos, os embates, as resistências criativas, as lutas dos que se opõem ao reino da sujeição conformista. É preciso voltar sempre mais aos estudos seminais do pensamento critico, para compreender a natureza e o grau da dominação imperialista em nosso tempo, inclusive no campo dos valores, da arte, da cultura.
Trata-se também de observar as contradições e tensões fundamentais no sistema dominante, em acúmulo e progressiva visibilidade. É de fácil constatação o crescimento da miséria absoluta da maioria da população mundial, em aberto contraste com a riqueza ostensiva e predatória de uma minoria; a crescente marginalização de jovens, desempregados e velhos nos países do centro capitalista, enfim um quadro amplo a demonstrar a impossibilidade de soluções no marco da ordem do capital.
BoletimNPC- Como você avalia o papel da grande mídia na formação cultural dos brasileiros?
Adelaide - Não creio que a chamada grande mídia, por sua natureza, tenha compromissos ou um programa neste sentido. Basta que se veja a grade das TVs comerciais, a cobertura jornalística. Afinal qual é o lugar do teatro, das artes, da literatura, da crítica literária, da música, na “grande mídia”? E isto para não falar dos limites do mercado editorial, da história do livro no Brasil, da literatura inacessível às camadas populares, da ausência de programas públicos de acesso ao livro e do gosto pela leitura, como imprescindíveis bens do espírito.
Isto incide na agregação de outro aporte de interesse em nossa reflexão: o descenso da coesão e intervenção social dos trabalhadores, com a perda das identidades construídas desde o século XIX. A sociedade de consumo, as tecnologias de massificação, são algumas das razões fundamentais para compreender os contornos desta realidade onde o espaço de construção coletiva cede lugar à realidade midiática. Se nas realidades das primeiras décadas do século XX, anarquistas, socialistas e comunistas conseguiram se apropriar da tecnologia da imprensa e a partir dela, no caso dos anarquistas, construíram uma rica experiência no campo da cultura operária e libertária, igual processo não se deu relativo ao rádio, à televisão, ao vídeo e agora em relação à informática. Estes últimos, usados largamente no jogo de manipulação, de padronização e anexação ideológica e cultural, de destruição das diferenças, das diversidades. Essa estratégia tem ainda outro efeito diminuidor da densidade das lutas sociais: a fragmentação dos espaços coletivos cotidianos das classes dominadas, posto que as induções tecnológicas retiram-nos do espaço da rua, da vivência coletiva, para a redução da vida no espaço individual e privado. Adite-se a isto problema de proporções ainda mais graves: a ausência de uma esfera pública democrática, campo de expressão plural e possibilidade de experimentação da criação, do desejo.
A reconstrução desses espaços de sociabilidade, de comunicação e de cultura dos “de baixo”, a reocupação dos espaços públicos, é possivelmente o maior desafio posto a um projeto transformador em nossa sociedade.
BoletimNPC- Em sua palestra no 12º Curso Anual do NPC, você afirmou que "precisamos, em nossa militância, recuperar o primado da política". Como fazer isso diante da atual conjuntura de individualismo e despolitização?
Adelaide - Entendo que é possível e necessário recuperar desde a tradição socialista a recriação política. Nesse sentido, o desafio que é posto ao nosso tempo, numa América Latina em processo de rebelião é afastar o ecletismo teórico e a corrosão do discurso midiático, do eleitoralismo, para encontrar o legado do espírito revolucionário do socialismo. Neste passo, é preciso aprender a ler o sentido mais profundo das lutas animadas, durante quase dois séculos, pelos militantes anarquistas, libertários, ecologistas, feministas, comunistas, mundo afora. As idéias retoras que devemos abraçar, obrigam-nos, para permanecermos à altura do desafio que é posto, a refletir sobre o primado da política. Entendam: não da pequena política eleitoreira, dos jogos medíocres da realpolitik, das pequenas e corrosivas disputas por espaços nos aparelhos de poder. Referimo-nos àquele sentido da Grécia clássica, aristotélico, da política como o cerne da natureza dos homens e mulheres que trabalham, vivem, amam e sonham. Ou, por outra, no sentido renascentista de política como ato de construção da nova sociedade republicana e - completaríamos nós - socialista e democrática. Como fazê-lo? Dito de outro modo: como materializar, aqui e agora, com a urgência do tempo e sob o olhar esperançoso dos que acreditam na ousadia, no marco do capitalismo, o primado da política? Um projeto desta magnitude e natureza é, desde sempre, uma construção. Construção coletiva, mas coletiva não no sentido da retórica vazia que um certo discurso de esquerda proclama, mas não pratica. Construção coletiva autêntica, no sentido de ter a audácia e a beleza de animar, seduzir, mobilizar estruturas de sensibilidades e razões de pertencimento dos muitos desvalidos, humilhados, ofendidos e silenciados. Seduzir pela palavra, pelo gesto, pela ação de reconhecimento do outro, para a luta cotidiana de transformação, para “tornar possível o impossível”.
BoletimNPC- Que recado você deixaria para os jornalistas que se empenham em construir uma outra comunicação, voltada para os trabalhadores?
Adelaide - Vamos estudar mais, ler mais o mundo à nossa volta. Vamos aprender fazendo a luta social. Vamos ajudar a recuperar o melhor do vocabulário dos precursores socialistas libertários: solidariedade, apoio mútuo. E, como estamos próximos do 8 de março, nos inspiremos na escrita afiada, na memória de nossas Louise Michel, Mary Wolstonecraft, Flora Tristan, Rosa Luxemburgo, Emma Goldmann e no exemplo das mulheres da Via Campesina que arrancaram as mudas da morte para semear a vida.