A ATL tem por objetivo congregar escritores e intelectuais de todas as vertentes, propugnar por todos os meios ao seu alcance pela difusão, resgate, promoção e conservação evolutiva da cultura, incentivando sempre a criação literária.
No dia 5 de março de 2005 às 19 horas no Auditório da Escola Liceu de Tauá “Lili Feitosa”, foi fundada a Academia Tauaense de Letras, naquele momento imortalizado 14 Cadeiras com os seus Patronos e respectivos Membros Fundadores.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

DISCURSO DE POSSE...

ACADEMIA TAUAENSE DE LETRAS DE TAUÁ RECEBE NOVO ACADÊMICO

Academia Tauaense de Letras – Discurso de posse em 03/nov/2007
Senhor Presidente da Academia Tauaense de Letras, Prof. João Geneilson,
Ilustres componentes da Mesa,
Minhas queridas confreiras,
Meus queridos confrades,
Minhas amigas,
Meus amigos,

Senhoras e Senhores,

Neste 03.nov.2007, as venerandas portas da ACADEMIA TAUAENSE DE LETRAS, se abrem para acolher fraternalmente, este que vos fala, como o mais humilde dos servos acadêmicos. Neste simbólico recinto de estudo, meditação e de trabalho profícuo, reúnem-se os cultores do saber, para festejarem o nosso ingresso na ATL.
Podeis muito bem avaliar o quanto me está sendo grato e honroso, ser recebido nesta casa. Agradeço, igualmente, ao Senhor Presidente deste apogeu de Imortais, Prof. João Geneilson e demais acadêmicos, pela escolha do meu nome para ocupar a Cadeira 40, cujo Patrono, CÂNDIDO MEIRELES, por certo, há de vibrar em meu pensamento nesta noite festiva, e maravilhosa, que passa a fazer parte das minhas recordações mais gratas.
Mas aqui estou. Não para falar sobre mim mesmo, porém para tecer considerações iniciais sobre o meu patrono, isto é, da Cadeira 40, que hoje ocupo: Cândido Meireles.
Cândido Meireles – Natural de Tauá (1895 – 1968)

Odontólogo pela Faculdade de Odontologia e Farmácia do Ceará, tendo exercido por algum tempo, o cargo de Inspetor Regional do Ensino, as funções de Inspetor-Chefe do Serviço odontológico Escolar. Sócio Efetivo da Associação Cearense de Imprensa, colaborou há alguns anos em quase todos os jornais e revistas de Fortaleza, com trabalhos em prosa e verso. Quando ainda estudante, fez parte do Recreio Literário Soriano de Albuquerque – 1919, em cujo órgão oficial – A Conquista – escrevia constantemente, 1935.

Em Sonetos Cearenses, destaca-se de modo claro, a Poesia Paciência, que encarando esta grande virtude assim se expressou:

PACIÊNCIA (Cândido Meireles, Sonetos Cearenses, 1938)


Irmã dos pobres, terna e doce amiga
Dos tristes, dos vencidos, dos descrentes;
Dos que um destino avesso desabriga
E andam na vida assim como desmentes.

Que a tua afável luz sempre me siga,
E as minhas dores mudas adormentes,
Que eu sempre te abençoe e te bendiga,
Irmãzinha dos velhos e dos doentes.

Toda a razão do amor tu concretizas:
Quando o conforto espalhas entre os seres,
E as agonias fundas amortizas.

Tu, que de consolar nunca te cansas,
Bendita sejas sempre, só por seres
Semeadora eterna de esperanças.

A sabedoria do Patrono da Cadeira 40, quiz incentivar tão nobre virtude, nos ensinando a termos um controle emocional equilibrado, sem nunca perdermos a calma. Paciênica ao que se vê nesta arte que lemos, enconrta ressonância na tolerância a erros, ou fatos indesejados, tendo capacidade de suportar incômodos e dificuldades de toda ordem, em qualquer hora ou em qualquer lugar. Ter paciência, é persistir em uma atividade difícil, acreditando conseguir o almejado. Em última análise, é ser perseverante e capaz de esperar o momento certo para o retorno das atitudes do presente. Tendo paciência, teremos capacidade de ouvir alguém, com calma, atenção, sem pressa e sem ansiedade. Ser paciente é pois, ser tolerante.
Senhoras e senhores,
Analisando por este prisma, tomar posse na cadeira número 40 da Academia Tauaense de Letras, é uma alegria, uma honra e sobretudo uma enorme responsabilidade. Alegria, pelo reconhecimento. Honra, pela recompensa que parte de uma das mais exigentes entidades tauaenses, famosa pela severidade com que escolhe seus membros. E responsabilidade, pelo patrono Cândido Meireles, tauaense exemplar, até então no anonimato e somente agora evidenciado, após o seu centenário de nascimento, valendo aqui parabenizar a Acadêmica Anamelia, pelo devotado trabalho e por informações valiosas sobre a vida deste ilustre tauaense.
Finalmente, como a vida corre célere, em atmosfera de positividade, tenho que agradecer a todos que participaram ou participam de alguma forma da minha vida, somando comigo, me ensinando, e fazendo dela, essencialmente, uma vida boa de ser vivida.
Muito obrigado aos meus familiares, Isabel minha mulher, companheira e confidente de todos os momentos, meus filhos Emanuel e Sarah, Patrícia, Gabriela, minha mãe e meus irmãos, pelo amor, pela constância e pela paciência que sempre tiveram e têm comigo. Obrigado aos meus amigos e minhas amigas - gente que gostou ou gosta de mim e de quem eu gosto, ou melhor, que eu amo - e que ao longo do percurso dividiram e dividem, tanta coisa comigo.
A todos vocês que vieram aqui me prestigiar nesta noite, o meu carinho, a minha amizade, o meu mais profundo agradecimento e a certeza de que tanta generosidade não será esquecida dentro deste coração que pulsa saudade, saudade, saudade.
E por falar em saudade, não posso esquecer um importante Acadêmico, que por aqui passou tão rápido, pois Deus o chamou certamente para outras missões. Trata-se de Alberto Lima Sobrinho, com quem mantinha sólida amizade. Alberto partiu deixando lacuna impreenchível, quer nas letras, quer no jornalismo, atividade que despontava promissora e onde tínhamos projetos comuns, ainda hoje sem um substituto. Alberto partiu cedo, mas deixou uma obra valorosa, que solidificou sua imortalidade.
Estou feliz de estar entre vós.
Portanto, meus amigos, eis-me aqui nesta Casa. Eis-me aqui, como um colaborador, acostumado à luta e ao desafio, na maioria das vezes escolhendo os caminhos tortuosos, para aprender a ter paciência. Talvez por isto, o patrono se encaixou tão bem na minha maneira de ser.
Assim, nada melhor do que ombrear-me a esta plêiade de ilustres confreiras e confrades, que engalanam os quadros da Academia Tauaense de Letras, a quem, de modo muito justo, rendo as minhas homenagens e os meus agradecimentos.
Minhas senhoras e meus senhores,
A providência divina ou o destino, muitas vezes colocam-nos em situação jamais imaginadas e hoje me encontro numa destas oportunidades, preferindo entender como uma inédita honraria, muito superior aos modestos méritos de profissional. Daí reconheço a tamanha ousadia de sentar na cadeira cujo patrono é o insigne Cândido Meireles. Todavia, aqui estou, sobretudo graças a Deus, movido e atraído pela admiração às qualidades desse herói, prometendo não desapontá-lo, sobretudo honrando o compromisso, no sentido de: “exercer com dignidade e independência; observando a ética, os deveres e prerrogativas; bem como colaborando no aperfeiçoamento da cultura e desta instituição.
Por conseguinte, a minha entrada nesta Academia foi sobretudo fruto da gentileza dos nobres acadêmicos apoiadores, a quem agradeço do fundo do coração, aos que assinaram nossa indicação: Prof. João Geneilson, Anamelia Mota e Maria da Trindade, observando que desde cedo compreendi a ATL, como fomentadora de uma atmosfera positiva, valendo afirmar, que a lei da atração se instalou de uma vez por todas, entre nós. Nada neste mundo ocorre por acaso. Sinto que este grupo de pessoas, sumo da intelectualidade do Tauá, estão a cada dia, oferecendo seus conhecimentos em prol de um Tauá mais esclarecido, em prol de um Tauá que compreenda, que a nossa passagem aqui neste mundo, é efêmera e nos exige decisões firmes em prol do próximo e da humanidade.

Obrigado mais uma vez. Despeço-me desejando a todos, muita paz e muita saúde. Sejamos sempre, seres de muita paz.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

ANIVERSÁRIO F. CLOTILDE

HOJE, 19 de outubro, é um dia muito especial para a História da Mulher cearense, pois é o Dia do Aniversário de Nascimento da Poetisa, Contista, Cronista, Jornalista, Romancista, Dramaturga e Professora FRANCISCA CLOTILDE, figura ímpar na História da Educação e da Literatura Cearense, em finais do Século XIX e primeiras décadas do Século XX. Na data de hoje, FRANCISCA CLOTILDE costumava receber Homenagens de seus colegas. Vejamos como exemplo:

SINGELAS SAUDAÇÕES

(À D. Francisca Clotilde, pelo 19 de outubro)

Saudar venho boa amiga,
Esta data esplendorosa
Receba com mil flores,
É festiva e assaz ditosa,
Pois relembra o teu natal,
Salve data auspiciosa.

Que durante muitos anos,
Festejamos esse dia
E que seja aureolado
Pelas bênçãos de Maria,
Salve, salve o dezenove
Que nos trás doce alegria!

Que vivas sempre feliz
Junto a lira predileta
Aos caminhos de Aristóteles
E de Ângela dileta
Fitando a Estrellinha
Da distinta Antonietta.


CARLYLE MARTINS. Revista A Estrella, Outubro de 1916.


FELIZ NATAL
(Saudação à talentosa D. F. Clotilde)

Apoteose sublime! A natureza...
Porque exulta assim, porque nos ninhos
Há tanta festa e os lindos passarinhos
Que mistérios celebram na leveza?

Pelos jardins as flores, que beleza!
Em idílios de amor ternos carinhos
Permutam... Colibris entre os espinhos
Das rosas, vão beijá-las com presteza.

Dizei-me, oh! Natureza delirante:
Porque tanto exultais, porque motivo,
Vejo-vos assim feliz e radiante?

Nossa alegria infinda não se rende:
É que hoje é o natal doce e festivo,
Da meiga poetisa cearense!

CORDÉLIA SYLVIA. A Estrella, outubro de 1915.


VIVA O DEZENOVE DE OUTUBRO! VIVA FRANCISCA CLOTILDE!


Anamélia Mota
Membro Fundadora da Cadeira Nº 11, Patroneada por F. CLOTIDE
na Academia Tauaense de Letras.

sábado, 13 de outubro de 2007

CONVITE


A Academia Tauaense de Letras tem a satisfação de convidar V. Sa. e família para participar da Sessão Solene de posse do Acadêmico Manoel Enéas Alves Mota, que irá ocupar a Cadeira nº. 40, patroneada pelo tauaense Imortal Cândido Meireles.

Data: 3 de novembro de 2007
Horário: 20 horas
Local: Trici Clube


OS SAPATOS VELHOS

OS SAPATOS VELHOS
Franco Feitosa *

- “Há três fins de semana que não vou à casa de mamãe. O Juninho daqui a pouco não conhece nem mais a avó! Blá-blá-blá....etc...blá-blá-blá, etc”... e a cantilena matraqueada e desafinada que começara alguns séculos atrás, ir-se-ia prolongar por mais dois ou três milênios se não fôra ela sair batendo a porta e rebocando o coitado do menino pela mão.
Quando o estrondo do fechar da porta diminuiu, pude ouvir o raivoso pisar do salto alto, o violentar da porta e as quatro tentativas de arranco do motor da camioneta.
- A camioneta!...
- Pô! Vou ficar sem a camioneta! Se pintar uma pescaria vou ter que ir no carro de passeio... Corri. Abri a porta e... vi apenas quando sumiram na esquina. Consolei-me, afinal não iria suportar outro fim de semana em casa de minha sogra. Nada de especial. Não me leve a mal. Ela seria ótima, se fosse a sua sogra, não minha! Vai falar assim na casa-do-chico, Sô! Não pára um segundo de descrever as genialidades de seu filho e as (insinua apenas) imbecilidades de seu único genro - eu. Preferível, mil vezes ficar em casa, num sábado ensolarado, curtindo uma televisãozinha.
- Ué! Esta TV ‘ tava ótima ontem, e agora não tem imagem! Mexo daqui, mexo dali... sinto cheiro de queimado e de repente, nem som nem nada. Pifou de vez. Olho o relógio, duas horas da tarde, consêrto especializado só segunda feira. Não desanimo. Abro a janela do quarto e vejo que o dia está lindo. Dourado sobre anil. Um céu de brigadeiro, a temperatura agradável, uma brisa fresca mexeu com a cortina, e então escutei o silêncio tranqüilizador que dominou minha casa. “Enfim só!”
Mil alternativas. Liguei o sistema de som... Nada. Nem mesmo uma luzinha acendeu. Acendi a luz, isto é, liguei o interruptor... Nada de luz. Telefonei para companhia de luz. Problema na linha, fornecimento interrompido por 10 ou 12 horas, provavelmente.
Bem, sempre há o que fazer. Tomar uma cervejinha bem gelad... e abrir a geladeira, descongelar a carne e ser culpado de tudo! Nunca! Melhor beber um cafezinho requentado e ler o jorna... que ficou no banco da camioneta! E adianta xingar?.. Passei as duas mãos lentamente na cabeça, comprimi as frontes enquanto me sentava no sofá com os cotovelos apoiados nos joelhos, procurando uma outra idéia de curtir o resto do dia, até que chegasse a hora de ir ao futebol.
Sempre há o que fazer! Acho que já disse isso... Não importa. Levantei-me e lembrei-me das compras que tinha feito ontem. Uma camisa, um cinto, um par de sapatos e outras bugigangas que formavam o volumoso pacote ainda sobre a cômoda no quarto de dormir. De dormir mesmo!.. Há muito me acostumei a dormir ouvindo lengalengas, broncas ou lamentações. Sou talvez o mais fiel devoto de Morfeu. Acho que por isso não me tornei alcoólatra ou viciado em tranqüilizantes. Durmo ‘pedregosamente’ - pesado e sólido. Sem roncos ou agitações... mas só sei dormir de noite... Que mudança! Nem pareço mais aquele boêmio alegre, que só via o sol quando este nascia, invadindo o boteco ou a noitada boa. Acho até que virei Inca! ‘ tô adorando o sol e a luz... O que o casamento não fizer, nem a peste negra faz.
É, chega de pensar bobagens... Vamos arrumar as coisas em seus lugares...
Abri o pacote. Tirei a camisa da caixa, e pacientemente retirei todos os alfinetes, plástico do colarinho, etiquetas gomadas com código e preço, papelão de suporte, e toda a parafernália que acompanha uma camisa comprada feita. Terminado o cerimonial, voltei-me para os sapatos... Bonitos! Um pouco incômodos, mas bonitos. Estava mesmo precisando. Abaixei-me, abri a sapateira e com uma só mão tirei meus sapatos velhos da prateleira enquanto com um gemido e comprimindo as costas com a mão livre, levantei-me.
Instintivamente olhei para os velhos sapatos, prestes a serem atirados no latão de lixo. Hoje deformados, de cor indefinida e brilho opaco, nem de longe faziam lembrar sua elegância marrom-clara de dez anos atrás. Dez anos! Como eles duraram! Também..., raramente usava sapatos sociais, principalmente depois que me casara. Calçar sapato social para trabalhar onde trabalho? Ou, pior ainda, ir para a casa da sogra?... Lá vou eu de novo! Chega de pensar bobagem!
Peguei os sapatos velhos, abri o latão de lixo, dei uma olhada nos velhos heróis de couro - Puro cromo alemão! - e parei. O pensamento me transportou para aquele dia, dez anos atrás. Que dia lindo! Quanta esperança em um só dia. Lembro-me até do jeito do vendedor, na sapataria. Todo respeitoso e solícito. Era o par de sapatos mais caro da loja. Acabara de chegar da Europa. Sóbrio, elegante, distinto. Exatamente o que eu precisava para aquele dia. Calçou meu pé como uma luva. Modelo fino, arqueado, cor clara e uniforme, a perfeita combinação para as meias finas e discretas que também comprara. Tudo elegante...
Meus olhos se encheram de brilho, e meu coração vibrou de alegria nostálgica de quem relembra uma coisa boa (Haec oleim momenisse juvabit, de Ovídio). Lembro-me bem. Calças, camisa social, cinto, meias, tudo novo! Tudo tão bonito, como tudo foi naquele dia memorável. Lembro-me bem quando os calcei, vesti o paletó e fui para... para...
PS. Não vou terminar, pois acho que você também já comprou um par de sapatos novos para...

* O acadêmico Franco Feitosa ocupa a cadeira 21 da Academia Tauaense de Letras.

*Conto inédito do professor Francisco Franco Feitosa Teles, escrito em Minas Gerais, no ano de 1982, quando este pertencia à Associação Profissional dos Escritores Mineiros.