A ATL tem por objetivo congregar escritores e intelectuais de todas as vertentes, propugnar por todos os meios ao seu alcance pela difusão, resgate, promoção e conservação evolutiva da cultura, incentivando sempre a criação literária.
No dia 5 de março de 2005 às 19 horas no Auditório da Escola Liceu de Tauá “Lili Feitosa”, foi fundada a Academia Tauaense de Letras, naquele momento imortalizado 14 Cadeiras com os seus Patronos e respectivos Membros Fundadores.

sábado, 25 de agosto de 2007

ÉTICA E MORAL

ÉTICA E MORAL: algumas considerações

A abordagem do tema Ética e Moral nos induz a algumas considerações preliminares. Inicialmente convém estabelecer a distinção entre Ética e Moral. Estes termos são sinônimos? Sim, no linguajar cotidiano. Entrementes, distintos à luz da Filosofia.
A Ética é constituída por princípios e valores. A Moral pelos costumes. Melhor explicitando: a Ética repousa na Axiologia, a Moral repousa na ação concreta; a Ética é de caráter teórico, o Moral é de natureza prática. A Ética é a teoria, a ciência do comportamento moral; a Moral é definida como um conjunto de normas que norteiam o comportamento humano.
Em que pese esta distinção é muito clara a correlação entre ambas: tanto a Ética quanto a Moral dizem respeito ao agir humano, ao fazer do homem: a Ética delineando os princípios e valores deste agir e a Moral concretizando-os no dia-a-dia.
A origem histórica e etimológica dos termos Ética e Moral por si só evidenciam esta distinção. Etimologicamente a palavra Ética provem do grego “ethos” significando o modo de ser, o caráter. Os romanos, por seu turno, traduziram o “ethos” grego para o latim “mos” (no plural “mores”) significando costumes, hábitos.
Certo é que tanto o termo “ethos” (caráter) como o termo “mos” (costume) apontam na direção do “fazer humano”, do seu agir, de sua ação. Encontrar uma jóia em uma caçada e dela tomar posse pode ser um costume, um gesto habitual freqüentemente visto nos dias atuais. Entretanto, responder à questão: é justa esta posse? – é uma indagação que nos remete ao campo da Ética. Da mesma forma, o costume de um jovem consumir drogas por conta do ambiente em que vive é visto como uma ação corriqueira, mas, sobre ele recai a pergunta: - é licito tal comportamento?
Muitos foram os pensadores (filósofos) que se debruçaram sobre a problemática da Ética e da Moral. Historicamente reconstituindo o tema já temos no “O Banquete” de Platão os primórdios desta questão no nascedouro da cultura helênica no distante século IV a.C.
Na Idade Média tanto o pensamento tomista (Tomás de Aquino) quanto escolástico (Agostinho, Pedro Abelardo e outros) também se ocupam deste assunto.
No século XVII, Barruch Spinoza (1632-1677) com sua obra Ética; Nicolau Malebranche (1638-1715) com o escrito Tratado de Moral; John Locke (1632-1704) com seu Tratado do Governo Civil também discutiram a mesma questão sob o ângulo filosófico.
No século seguinte (XVIII), em plena Idade Moderna, a obra “Os Fundamentos da Metafísica dos Costumes” de Emanuel Kant retoma esta problemática, por sinal lançando uma revisão crítica sobre o conceito de Ética e de Moral esposado até sua época e encarnados por David Hume (1711-1776) e Jean Jacques Rousseau 1712-1778). É famosa sua formulação: age unicamente segundo máxima que te leve a querer ao mesmo tempo que ela se torne lei universal”.
A Assertiva kantiana se encaminha para uma outra questão importante, ou seja, o problema da liberdade que “consiste na obediência à lei autoprescrita” (Roussau).
Na Idade Contemporânea certamente nenhum pensador como o filósofo-pedagogo norte-americano John Dewey melhor tratou da problemática em tela. Coube a Dewey nos trazer a importante distinção entre “moralidade costumeira” e “moralidade reflexiva”, pondo a primeira seu enfoque nas regras de conduta e a segunda apelando para a consciência (Leia-se deste autor Teoria da Vida Moral). Posição de destaque ocupa igualmente neste período o filósofo françês Jean Paul Sartre publicando O Ser e o Nada e o existencialista Albert Camus com O Avesso e o Direito.
Ética e Moral não fugiram às considerações de filósofos brasileiros, entre outros, Raimundo Farias Brito (A Verdade Como Regra das Ações) e Alceu Amoroso Lima ou simplesmente Tristão de Athayde com a obra Os Direitos do Homem e o Homem sem Direitos.
Vivemos atualmente uma crise ética. Valores apregoados como perenes e absolutos encontram-se aviltados e banalizados pela sociedade hodierna. O capitalismo selvagem dos dias atuais empana as consciências desvirtuando-as de uma prática ética e moral. A vida – como valor supremo do ser humano – é sacrificada em nome deste capitalismo que se expressa em guerras e destruição. Para onde caminha a humanidade? Esta indagação (título de um longa-metragem) postula de nossa parte uma reflexão que nos leve a uma prática de vida em que o respeito ao outro, a supremacia da vida sobre a morte, a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento científico e tecnológico sejam vistos como instrumentos de continuidade e não destruição da própria humanidade.
Prof. Dr. Aécio Feitosa
Membro da Academia Tauaense de Letras ocupante da Cadeira N.º 15 tendo como patrono o Coronel Eufrásio Alves Feitosa, fundador da igreja de Arneiroz.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

HISTÓRIA DA ESCRITA

História da Escrita
Origem da Escrita, escrita cuneiforme e hieroglífica, origem do alfabeto, história da escrita na antiguidade, evolução da escrita, invenção da escrita na Mesopotâmia
Placa de Barro com escrita cuneiforme dos sumérios
Na Pré-História o homem buscou se comunicar através de desenhos feitos na paredes das cavernas. Através deste tipo de representação (pintura rupestre), trocavam mensagens, passavam idéias e transmitiam desejos e necessidades. Porém, ainda não era um tipo de escrita, pois não havia organização, nem mesmo padronização das representações gráficas.
Foi somente na antiga Mesopotâmia que a escrita foi elaborada e criada. Por volta de 4000 a.C, os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme. Usavam placas de barro, onde cunhavam esta escrita. Muito do que sabemos hoje sobre este período da história, devemos as placas de argila com registros cotidianos, administrativos, econômicos e políticos da época.
Os egípcios antigos também desenvolveram a escrita quase na mesma época que os sumérios. Existiam duas formas de escrita no Antigo Egito: a demótica (mais simplificada) e a hieroglífica (mais complexa e formada por desenhos e símbolos). As paredes internas das pirâmides eram repletas de textos que falavam sobre a vida do faraó, rezas e mensagens para espantar possíveis saqueadores. Uma espécie de papel chamada papiro, que era produzida a partir de uma planta de mesmo nome, também era utilizado para escrever.
Já em Roma Antiga, no alfabeto romano havia somente letras maiúsculas. Contudo, na época em que estas começaram a ser escritas nos pergaminhos, com auxílio de hastes de bambu ou penas de patos e outras aves, ocorreu uma modificação em sua forma original e, posteriormente, criou-se um novo estilo de escrita denominado uncial. O novo estilo resistiu até o século VIII e foi utilizado na escritura de Bíblias lindamente escritas.
Na Alta Idade Média, no século VIII, Alcuíno, um monge inglês, elaborou outro estilo de alfabeto atendendo ao pedido do imperador Carlos Magno. Contudo, este novo estilo também possuía letras maiúsculas e minúsculas.
Com o passar do tempo, esta forma de escrita também passou por modificações, tornando-se complexa para leitura. Contudo, no século XV, alguns eruditos italianos, incomodados com este estilo complexo, criaram um novo estilo de escrita.
No ano de 1522, um outro italiano, chamado Lodovico Arrighi, foi o responsável pela publicação do primeiro caderno de caligrafia. Foi ele quem deu origem ao estilo que hoje denominamos itálico.
Com o passar do tempo outros cadernos também foram impressos, tendo seus tipos gravados em chapas de cobre (calcografia). Foi deste processo que se originou a designação de escrita calcográfica.

SONETO

ATO DE CARIDADE

Ouvi este soneto em 1973, em Tucson-Arizona, declamado repetidas vezes por Dona Rita Thomaz Barroso, sobrinha do Príncipe dos Poetas Padre Antônio Thomaz e mãe de minha querida colega Dra. Ângela Thomas Barroso.

Como a autoria era por mim desconhecida, atribuí que a poesia fora de D. Dinorah Thomaz (Poetisa irmã de D. Rita), ou do próprio “Tio Padre” como ela dizia.
O fato é que, antes de 3 enfartos do miocárdio e duas cirurgias de revascularização, além de uma CIT (crise isquêmica transitória – um pequeno derrame cerebral), minha memória era fenomenal o que me fez com que memorizasse imediatamente o soneto, o qual passo aos amigos na esperança que ele não venha a desaparecer.

Acadêmico Franco Feitosa
-cadeira No. 21 da Academia Tauaense de letras-

Ato de Caridade

Que eu faça o bem e de tal modo o faça
Que ninguém saiba o quanto me custou
Mãe, espero de Ti mais esta graça:
Que eu seja um bom sem parecer que sou.

Que o pouco que me dês me satisfaça
E se do pouco mesmo algum sobrou
Que eu leve essa migalha onde a desgraça
Inesperadamente penetrou

Que à minha mesa, a mais tenha um talher
Que será, minha Mãe Senhora Nossa,
Para o pobre faminto que vier.

Que eu transponha tropeços e embaraços
Mas, que eu não coma sozinho o pão que possa
Ser partido por mim em dois pedaços

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

ARTIGO

O JANGADEIRO
Indômita coragem brilhava no olhar do rude jangadeiro que, postado junto à praia, ouvia o marulhar das ondas, contemplando o horisonte q’se estendia limpido, apresentando naquella tarde o azul esmaecido dos dias hyemaes.A jangadinha veleira balouçava-se nas vagas parecendo adornar à carícia forte do oceano e mais longe o navio aguardava os passageiros que demandavam as plagas do Sul.Uma leva de escravos, escoltada pelo sinistro mercador de carne humana, aproximava-se tristemente.Braços unidos, corações despedaçados, os miseros envolviam um ultimo olhar para as areias alvejantes da terra da patria que iam deixar para sempre. Lágrimas profusas brilhavam naqueles rostos onde a fatalidade estampara desde o berço o ferrete da maldição de Cham.O que os esperava nas paragens do Sul? O engenho, o trabalho forçado, a tarimba, a minguada ração, o azorrague do feitor cruel, o opróbrio, a miséria enfim!Ali a escravidão ainda era mais negra!...E se aproximavam os míseros da praia, enquanto o marulho das ondas quebrava a monotonia da tarde que passava.O filho do mar compreendeu a extensão daquela dor que extravasava em prantos; olhou a casaria branca de Fortaleza sombreada de coqueiros, iluminada pelos revérberos do sol triunfante que afugentara as nevoas hybernaes. Um grande sentimento de compaixão ergue-se-lhe no intimo; a revolta da consciência sobrepujou ao dever de jangadeiro.Sugestionou aos companheiros a greve mais honrosa que se tem registrado na historia da humanidade e o brado vibrante que imortalizou o seu nome suplantou os protestos do negociante negreiro que não queria ser estorvado no seu comercio vantajoso.Como um clarim apregoando as harmonias da liberdade saiu dos lábios do “Dragão do Mar” o grito humanitário e potente: “Neste porto não se embarca mais um só escravo!”
F. Clotilde. Folha do Commercio. Aracati, 26/03/1911.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

SONETO

NO CALVÁRIO (F. Clotilde, Ao Frei Marcelino de Mornico, março de 1915).

Ergue-se a cruz no monte! As sombras lutulentas
De um eclipse de sol a terra toda envolvem;
Tudo sofre e se agitam, as pedras se revolvem,
E mortuárias visões, das tumbas surgem lentas.

Aqui e ali se veem criaturas malicentas
Que mesmo na aflição os seus olhares volvem
Para o Mártir divino, a blasfemar cruentas
E outra há que a adorá-lo, enfim já se resolveram.

Um gorgeio não se ouvem... A turba emudecida
Em face da tragédia horrorosa, deicida.
Desvenda o mundo inteiro, o mais triste cenário.

Somente o amor de mãe, inquebrantável, forte,
Não vacila, e resiste ao suplício, a morte.
Brilhando como o céu, nas trevas do calvário.
Contribuição: Acadêmica Anamélia Mota

domingo, 19 de agosto de 2007

VOTOS

Luiz Borges, 80 anos
Acadêmico Antonio Viana

A sociedade tauaense, mas, sobretudo, os mais pobres (já que com o seu espírito altruísta é amado de um extremo a outro), une-se nesta data, em profundo sentimento de alegria e festa pelos 80 anos do conhecidíssimo Luiz Borges (Luiz Gonzaga Lima). Da tradicional família de Tauá, os Lima, ficou conhecido como "LUIZ BORGES”, por sua atuação nos anos 60 e 70 (ou até um pouquinho antes), ao lado do comerciante-farmacêutico Manoel Trajano Borges. O nosso homenageado de hoje é um desses amigos de primeira hora, dos meus avós (dona Sinhá e "Seu" Emídio; dos meus pais (sobretudo, papai, Abrahão Scarsela de Carvalho - que me lembro, comprava sempre os remédios na Farmácia Araújo e quem atendia era Luiz Borges, ou na Farmácia Neuman, do saudoso amigo Alcides Feitosa. Nessa relembrança, gostaria de em nomes dos tauaenses, cumprimentar Luiz Borges, que nesta segunda-feira, 13, completa 80 anos. Completamente lúcido e atuante, ainda participa de atividades da maçonaria na Loja São João do Príncipe, que fundou em 1955, sendo o seu Terceiro Venerável.

Família linda

Em recente momento, o aniversariante posou, ao lado das filhas Luiza Helena, Ângela Maria, Marta Eugênia, Maria de Céu e Pedro Luís. O nosso homenageado nasceu no dia 13 de Agosto de 1927, de tradicionais famílias Feitosa e Lima, de Tauá e dos Inhamuns. Começou a trabalhar muito cedo com o casal Dr. Manoel Trajano Borges e Antonia de Araújo Borges, "que vieram se estabelecer em Tauá com a Farmácia Araújo”, conta ao colunista uma de suas filhas. Casou-se com Francisca Araújo (Lily), já falecida, com quem teve os filhos anteriormente nominados.

História de muito sucesso

Luiz Gonzaga Lima, o nosso Luiz Borges, era um "agitador" em favor de Tauá e da alegria. Muito festeiro, foi Rei Momo nos tradicionais carnavais do Tricy Clube. Com os saudosos João Firmino de Araújo, José Nogueira (Zeca), Moacir Marques, Jorge Dias, Flávio Alexandrino, Jorge Massilon, João e Antonio Paes Ribeiro fundou a loja maçônica de Tauá, em 1955 - sendo o seu terceiro Venerável Mestre a freqüentador até hoje da Loja São João do Príncipe (1º nome de Tauá). Flamenguista ferrenho, adora futebol e com o amigo Lemos Dias participou da fundação da Liga Desportiva Tauaense.

Irmãos e hábito

Aqueles que viveram os anos 60/70 em Tauá, (vim pra Fortaleza em 1967) – se recordam que Luiz Borges (de largo sorriso), muito apegado à cultura e tradições da nossa terra, ainda culti­va o hábito de guardar e preservar fotos de tauaenses ilustres e fotos da cidade. De uma família numerosa, são seus irmãos: Luís Lima, Chagas Lima "Chaguinhas", Joaquim Lima, Nazinha, Naninha, Raimunda, Carmelina, Aderlô, Sara, Alcina e Adecy.

Tio-bisavô

O aniversariante de hoje, uma das figuras mais queridas em Tauá, é tio-bisavô da Primeira Dama do Estado, dona Maria Célia, pois, irmão do saudoso comerciante Luiz Alves Lima (pai da Maria Célia, avô da primeira dama), que é sobrinha do nosso Luiz Borges. Entre os seus sobrinhos, alguns de destaque: em Tauá, foi prefeito, José da Costa Leitão Lima; em Fortaleza, o grande cancerologista Pedro Wilson Leitão Lima. Portanto, hoje é dia da festa para todos os seus filhos, genros, nora, netos e bisnetos. São genros: César Haddad (Luiz Helena), Egberto Feitosa (Ângela), Ivan Nunes (Marta Eugênia), Eymar Cavalcante (Maria do Céu) e nora Marta Feitosa (Pedro Luís).

sábado, 18 de agosto de 2007

SONETO

UMA LEMBRANÇA (Úrsula Garcia, Mulheres do Brasil, 1971)

Eu quis levá-la ao cemitério, um dia,
Mas em casa disseram: Tão criança
É tão longe!... É tão triste!... Eu insistia,
Não sabes o que é tristeza, ela, e não cansa!

A manhã é tão linda! O sol radia,
O ar é tão puro, a brisa fresca e mansa...
E um passeio ao campo. Não faria
Maal algum visitar quem lá descansa...

E eu pensava: È melhor ir caminhando,
Com seus pesinhos , rindo, conversando,
Voltar da cor das rosas que levou...

Não foi comigo... Mas foi levada
Nima manhã de sol... muda, gelada,
Lívida, inerte... E nunca mias voltou!

Contribuição: Acadêmica Anamélia Mota

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

CRÔNICA

Testemunho de uma devoção
Michel Pinheiro

Tem-se por sagrado o exercício da maternidade. As tarefas se mostram pesarosas, mas dão indescritível e enigmático prazer. A natureza deu inexplicável sensibilidade às mulheres para que desempenhassem diversas funções ao mesmo tempo – verdadeiras divindades. Espanta a forma de como conseguem ser profissionais, de como gerem as tarefas de casa, de como atuam como mães - a mais delicada, por certo, e de como são, ainda, esposas, em seus diversos sentidos. Pedindo permissão para falar de um perfil que se enquadra em respeitável maioria das mães brasileiras, vejo um exemplo notável. Ela é a última de prole numerosa de treze rebentos - dos quais três ausentes dado o pouco tempo de luz. Sua personalidade revelou, desde cedo, formação com valores religiosos e morais rígidos, capazes de torná-la como é hoje, em padrão de comportamento quase sectário. Na profissão procura adotar regras de experiência baseadas nos conceitos colhidos em sua existência, sempre permeando o bom senso. Suas decisões sempre são tomadas considerando a possibilidade de serem implementadas, vetor também extensivo às tarefas corriqueiras do lar. O máximo de prudência é tônica certa em seu comportamento. É exemplo de mulher admirável, portanto. A mais elaborada função que exerce é a materna. Com duas crias cuidadas com excelência – um casalzinho lindo, ela apresenta-se como o modelo de mãe almejado por qualquer filho que quer ter futuro. Zela pela aparência das crianças, por sua saúde física e mental – busca sempre deitar sua atenção em detalhes do comportamento deles. Impressiona o cuidado com a administração dos medicamentos aos pequenos. E consegue conviver com outros motivos de preocupação: os estudos dos meninos, pois procura não poupar na educação formal; a segurança deles, buscando sempre recomendar incansavelmente qualquer um que queira assumir uma tarefa periférica cotidiana. Os filhos são, assim, a prioridade das prioridades. As atenções, quase em sua totalidade, são voltadas para eles, coisa que ela faz com muito prazer - e faz muito bem. Mas o dia não tem muitas horas e ela sabe disto. A última função não terá comentários agora. Não agora...

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A MULHER NA FAMÍLIA

A Mulher na Família
Por F. Clotilde
É no lar, santuário íntimo de seus mais puros afetos que a mulher deve ostentar verdadeiramente a bondade a ternura de seu coração, tornando-se o anjo da guarda do esposo e dos filhos e lhes inspirando o bem e a virtude. A natureza dando à mulher uma constituição fraca e um temperamento nervoso não a destinou à vida da luta, no seio da sociedade, entregue às agitações e ao afã dos negócios; reservou-a como uma relíquia mimosa para a família, para aformosear este pequeno mundo intimo, onde ela tem de exercer sua benfazeja influência no tríplice papel de filha, esposa e mãe.
Com efeito, se ela ultrapassando o limite que lhe foi traçado por mãe sábia e previdente atirar-se ao torvelinho do mundo, entregando-se à vida tumultuária que só compete ao homem, gastará as forças e cairá extenuada sob o peso da difícil tarefa que empreendera, sem ter realizado o ideal que aspirara e conhecendo talvez muito tarde que não era este o seu papel.
Há flores que se desenvolvem na liberdade do campo; há outras, porém, que apenas nos limites de um jardim e cultivadas por mão hábil podem crescer e desabrochar.
A mulher assemelha-se a essas últimas flores, e no recinto da família, cercada dos cuidados dos entes que a idolatram, e por sua vez enchendo-os de desvelos e solicitude é que pode mostrar a exuberância de seu coração e a beleza de sua alma.
Houve, porém, mulheres que se imortalizaram por feitos gloriosos e que a história nos apresenta como verdadeiras heroínas.
Desde os mais remotos tempos, quando a humanidade no embrião da civilização lutava ainda com as trevas do obscurantismo, a mulher surgiu iluminada por um esplendor divino patenteando o poder e a força irresistível de sua fraqueza.
Todos os vultos femininos que admirarmos na história antiga podem ombrear com as heroínas da Idade Média e com as mulheres célebres da nossa época, nas quais a civilização imprimiu um beijo de luz.
Se Judith embebeu na garganta do opressor dos judeus o punhal homicida, Roland emaranhou-se na política para destronizar um rei pusilânime e aclarar a Franca com o sol da liberdade, e servindo-se do gládio de sua pena inspirada com ela acutilou o despotismo e a tirania.
Seria longo repetir os nomes dessas mulheres que se imortalizaram, mas não teremos entre nós outras heroínas iguais a essas que arrastadas pela força do gênio se atiraram na arena da luta por amor de uma idéia, ou pelo fanatismo de uma causa?
Sem sair da doce obscuridade do lar não poderá certamente a mulher figurar na história, ao lado do homem como o protótipo de virtudes cívicas; porém que melhor celebridade para ela do que reviver eternamente no coração de seus filhos, adorada, reverenciada como um modelo de virtudes e boas qualidades?
Que melhor glória do que educar futuros cidadãos que saibam honrar a pátria e engrandecê-la com o mérito que sempre resulta das boas ações?
Na família é a mulher a companheira do homem, a educadora dos filhos.
Portanto não deve esquecer nunca que dela dependem a felicidade e o futuro das tenras criaturas que nela se revêem como em um espelho que deve refletir as mais belas e puras imagens; que lhe cumpre velar incessantemente para desenvolver o bem naqueles corações ingênuos e inexperientes, procurando todos os meios para depositar neles o gérmen que deverá produzir no decurso da vida bons e salutares frutos.
Uma mãe lê na alma dos filhos com uma perspicácia, verdadeiramente admirável.
Uma língua que balbucia, uma face que cora, um olhar que se perturba são para ela indícios de uma má ação que é preciso conhecer e cuja repetição deve ser evitada para que não traga serias conseqüências.
Então, com a doçura que só ela possui, com essa previdência quase divina, segue os passos vacilantes do filho e cercando-o de uma prudente vigilância consegue desviá-lo do mal.
O menino molda-se à sua vontade, à sua influência e guiado pelo amor solícito e desvelado que ela lhe dedica cresce nas melhores disposições, e tornando-se homem, se encontra na esposa a mesma ternura prossegue na senda do bem, da qual só o poderão afastar o turbilhão de paixões desencadeadas e furiosas.
Ele pode resvalar uma vez, mas é sustido à borda do abismo por uma angélica e carinhosa mão. Retrocede, e vai buscar no asilo que abandonou um instante o esquecimento de sua loucura.
A mulher digna de sua nobre missão transforma o lar em um paraíso e consegue com um sorriso desviar dele todas as aflições, desterrar todas as tristezas.
Com uma acenada economia mantém o equilíbrio dos negócios domésticos, e coloca as despesas ao nível dos meios de que o marido pode dispor.
Desdenha os ornatos frívolos, e faz das boas maneiras e das graças que dá a educação a par da amabilidade, o seu principal adorno.
Encarrega-se de instruir o espírito dos filhos, e para isso deve possuir uma boa soma de conhecimentos úteis e uma instrução aprimorada.
Nos agradáveis serões familiares entretém com os dotes de sua inteligência o prazer e a união, evitando assim que o marido e os filhos vão procurar freqüentemente em outra parte as distrações que podem ter ao lado dela, e em um delicioso conchego solidifica o edifício de sua felicidade, e estreita cada vez mais os laços formados pelo sangue e pelo amor.
Não quero dizer com isto que ela se abstenha de freqüentar a sociedade e que se encerre em casa, o que seria monótono e fastidioso.
Deve pelo contrário cultivar boas relações, tendo, porém, o máximo cuidado em escolhê-las, porque assim como uma amiga sincera é um tesouro de raro valor, também uma amiga fingida é uma serpente que mais cedo ou mais tarde inocula o veneno de sua alma naqueles com quem convive.
A boa esposa auxilia em todas as ocasiões com prudentes conselhos o companheiro de sua vida, e nunca o inibe de tornar-se útil á sociedade e a seus semelhantes por um exagerado egoísmo e um excessivo afeto mal entendido.
É ela a primeira a dizer-lhe o que deve fazer, e tornar fácil o que lhe parecia difícil, a compartilhar as decepções e prazeres que lhe sobrevenham nas alternativas da vida, sendo sempre a amiga desvelada e carinhosa pronta a derramar gota a gota o amor que se alberga no seu coração sobre a existência daquele a quem ligou a sua.
Não será mil vezes mais glorioso desempenhá-lo e fazer da criança um homem útil à pátria e à família do que sentar-se nos bancos de academias em busca de um pergaminho, ou acompanhar os vaivéns da política, duende fatal que deve amedrontar até os animais varonis?
Não será mais proveitoso para a mulher entreter-se horas e horas a cuidar das lides domésticas e a velar pelo bem estar da família do que entregar-se ao desempenho de cargos públicos, nos quais gasta a saúde e aniquila o espírito?
Longe vai felizmente a era obscura em que ela agrilhoada ao mais cruel preconceito e sob o jugo de uma lei bárbara era uma escrava, um simples objeto de luxo para o homem.
Hoje existe por si mesma, conhece seus deveres, pode dispor de luzes suficientes para não se perder na noite da ignorância, e fazendo do lar o seu mundo, concentrando na família as suas mais caras aspirações viverá feliz e fará a felicidade dos outros.
Educai, pois, a mulher, ajuntai aos dotes naturais que a embelezam os encantos de um espírito cultivado, avigorai-lhe os bons sentimentos, tornai-a enfim digna de educar os filhos e prepará-los para a vida completa, e ela será um diamante de inexcedível valor, a lâmpada maravilhosa a espargir luz em torno do lar, a fonte de onde dimanarão a prosperidade e a ventura de família.
F. Clotilde B. Lima. A Quinzena, n. 5 e 6. Fortaleza, 15 de março de 1887 e 30 de março 1887, p. 40 e 47-48.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

POEMA DO OUTONO


DIMAS MACEDO
dimacedo@pge.ce.gov.br

Pede-me, Almircy Pinto, que eu examine o seu conjunto de poemas inéditos. Mas deixa claro – muito claro, mesmo – que não aspira aos louvores do reconhecimento. Fala-me que na família já existe o autor de Circo Encantado (1976) e de Carta do Pássaro (2004). E que Barros Pinho não seria a pessoa mais isenta (ou a mais indicada) para avaliar a sua criação, no contexto da arte literária.
Esquece, no entanto, Almircy, que alguns dos seus versos já foram musicados e que ele, para sua honra, é filho de um homem de indiscutível alma de poeta, que sempre pautou a sua vida para o exercício humanitário do bem e para os valores da política fundada na ética e na verdade. E que é descendente, pelo sangue de Dona Senhorinha Aracy, de uma estirpe de intelectuais da mais alta expressão e reconhecimento.
Seu pai, o Senador Almir Pinto, é bisneto de Fideralina Augusto e sobrinho-neto de Nogueira Accioly. Além de político e médico de renome, sobressaiu-se como retor primoroso e autor de livros e opúsculos sobre questões sociais da maior relevância. O Parlamento em Versos (1984) constitui o livro no qual condensou a sua produção de poeta.
João Clímaco Bezerra, Prisco Bezerra, Irmã Paula Bezerra, Pery Augusto Bezerra, Hylo Bezerra Gurgel, Raul Bezerra, Luiz Gonzaga Alves Bezerra, Vicente Bezerra Neto, Roberto Cláudio Bezerra, Maria Arair Pinto Paiva e Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra – estão entre os intelectuais e escritores, com os quais, a Família Bezerra, da cidade de Lavras, serviu à literatura, à política e à magistratura do Ceará e do Brasil.
Almircy, em quase tudo, me parece uma síntese da linhagem política do seu pai e dos pendores com que o intelecto ungiu os seus familiares pelo lado materno. No Ceará tem assumido a política enquanto serviço público e estratégia, enquanto vocação e exercício sereno da inteligência.
Sei que os leitores, com certa procedência, estão me perguntando se Almircy é poeta. E por que uma marca (ou talvez um símbolo), na ancestralidade de um homem, pode definir a sua condição. Respondo que não é sobre isto que estou falando. Aliás, no campo da criação e do juízo, um pouco do emblema divino, ou um tanto, não muito menos, de luz e de mistério, se fazem, no geral, o maior de todos os acertos.
Almircy Pinto é poeta, sim, sendo, no entanto, um poeta da solidão e do afeto; um poeta da resignação e da beleza; um poeta da ternura e da vida a dois compartilhada; um poeta do espanto e da grande realização do desejo.
Asas da saudade, lírios e estrelas do cotidiano, braços em busca da amplidão e do caminho, corpos que se rendem e se aninham e nuvens que voam pelo céu da boca e se condensam – são traços com que se firmam a escansão poemática e a construção literal e estrófica destes musicais Poemas do Outono.
Neste seu livro de estréia – impõe-se que aqui se registre – Almircy Pinto se assume poeta na melhor acepção do vocábulo: é lírico, genuinamente lírico e defensor da melopéia e da palavra ritmada como recursos extremos na construção da poesia de boa qualidade.
A melopéia, quando se harmoniza ou quando se conjuga com a lírica, gera o milagre da partitura musicada ou da escansão que se pauta na sinfonia sublime do silêncio.
Este livro – Poemas do Outono –, enquanto ponto de partida do desejo, em busca da solidão e do afeto, se adequa a este postulado: constitui um conjunto de letras ritmadas, que se transmutam em peças literárias de alcance sonoro e polifônico.
Sei que a poesia se faz com palavras e não com idéias. Sei que uma letra não é um poema, assim como ninguém é obrigado a fazer um poema escrevendo uma poesia de boa fatura literária.
E o autor deste livro, Sebastião Almircy, ainda não sendo um escritor de carreira, é um bom ouvinte das palavras. Não sei se um dia ele será um músico de talento. Mas um poeta, com certeza, ele já o é, com acentos na melhor leveza da palavra. E com esta afirmação, creiam os leitores deste livro, eu não tenho receio de errar. Ou de perder a minha condição de crítico e de poeta.

sábado, 4 de agosto de 2007

SONETO VITÓRIA RÉGIA

VITÓRIA RÉGIA ( Prisciliana Duarte de Almeida, Mulheres do Brasil, 1971)

A supefície do Amazonas mora,r
Na majestade que ninguém descreve,
Uma flor que ao se abrir é cor de neve
E empós se tinje do rubor da aurora.

Rainha excelsa e colossal da flora,
De rimavera eterna é um riso breve...p
Sobre ela um giro, em púrpuras, descreve
O bando de guarás por céu em fora!

Toda a grandeza tropical resume!
Até que o sol, bebendo-lhe o perfume,
Em nuvens de ouro e de rubis se ponha!

E, como um sonho lindo, à flor das águas,
Paira a Vitória-régia, à qual as mágoas
Segreda, mudamente, uma cegonha.

Contribuição: Acadêmica Anamélia Mota

DISCURSO DO ACADÊMICO JOÃO...

DISCURSO PROFERIDO EM SESSÃO ESPECIAL DA ACADEMIA TAUAENSE DE LETRAS, EM 01/08/2007.



Exmª Srª Prefeita Municipal de Tauá
Drª Patrícia Aguiar
Ilmº Sr. Presidente da Academia Tauaense de Letras
Prof. João Geneilson Gomes Araújo
Caro confrade
Prof. Aurélio Rodrigues de Loiola
Senhoras e senhores.


O escritor português Fernando Pessoa escreveu que “o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

Seguindo essa ótica, o nosso caro confrade Aurélio Rodrigues de Loiola, em seus livros, em suas poesias e em seus artigos, valoriza o sentimento humano, reconstitui momentos, reverencia o amor, prega a paz, enaltece a ética, destaca a família, evidencia a sua crença cristã e mostra grande devoção a sua terra natal. Como afirmei em outras oportunidades: Aurélio é, na prática, o embaixador de Tauá nos demais estados brasileiros e no mundo.

“Historinhas do sertão para meus netos” me fez lembrar uma das letras de Padre Zezinho (de longe, ao meu juízo, o maior compositor brasileiro no gênero religioso, exatamente porque sabe associar o louvor a Deus a aspectos sentimentais, familiares e corriqueiros). Aurélio, com esta sua nova obra, mostra toda sua grandeza de espírito ao se dedicar às crianças, ao se lembrar de seus netos e ao recordar os hábitos sertanejos (de Coroá, de Bezerros, de Trici e de Tauá). Assim sendo, cito um trecho de “Utopia”, do Padre Zezinho, que se identifica com o nosso Aurélio: “Das muitas coisas de meu tempo de criança / guardo vivo na lembrança/ o aconchego do meu lar / no fim da tarde quando tudo se aquietava / a família se juntava / lá no alpendre a conversar. [...] Correu o tempo e hoje eu vejo a maravilha / de se ter uma família / quando muitos não a têm [...]”.

Receba, Professor Aurélio, de mim, de Elizângela e de João Héricles, os nossos votos de profunda admiração, exatamente pelo que você é: uma extraordinária figura humana.

Muito Obrigado!


João Álcimo Viana Lima
Cadeira nº 5 - ATL