Dimas Macedo
Membro - Cadeira nº. 39
A microregião dos Inhamuns, capital por excelência do semi-árido do Nordeste, se tem caracterizado, na história do Ceará, pela tenacidade do seu povo na luta contra as intempéries, pela turbulência do seu clã parental e pelas vicissitudes da sua saga de ordem social e política.
Livros como o Clã dos Inhamuns, de Nertan Macedo; História Política de Tauá; de Aroldo Mota; Inhamuns: Terra e Homens, de Antônio Gomes de Freitas; e os Feitosas e o Sertão dos Inhamuns, do antropólogo e cientista político americano, Billy Chandler, evidenciam, à sociedade, o que são a paisagem, o homem e as relações sociais desta expressiva região do Ceará.
Em Tauá nasceram figuras exponenciais da cultura brasileira, como Francisca Clotilde, Joaquim Pimenta e Fausto Barreto. E agora vejo consolidar-se em seu seio a Academia Tauaense de Letras, sob a liderança de João Geneilson Gomes de Araújo, e cuja trajetória acompanha desde a sua criação.
Viajei a Tauá pela primeira vez para apresentar o livro de estréia de Edmilson Barbosa Francelino Filho, meu aluno na graduação e no curso de mestrado em Direito da UFC e depois meu colega no Departamento de Direito Público daquela Universidade, mercê da sua vocação de jurista e da sua autoridade no campo do Direito Eleitoral.
Hoje regresso a Tauá para receber o Diploma de Sócio Titular da Academia Tauaense de Letras e para ser recebido nesta casa justamente pelo Professor Edmilson Barbosa.
Entre a primeira e a última viagem, um rio caudaloso, nascido no Distrito de Marrecas, foi se fazendo um oceano em toda a minha vida. É em nome desse rio de águas cristalinas e de desejos e afetos sempre renovados, que tomo posso na Academia Tauaense de Letras.
A minha condição de escritor, outorgou-me o mérito de pertencer a diversas academias de letras em vários Estados do Brasil, a exemplo da Academia Cearense de Letras, da Academia de Letras e Artes do Nordeste, sediada no Recife, e do Instituto dos Advogados Brasileiros, com endereço no Rio de Janeiro. Ser membro da Academia Tauaense de Letras, no entanto, constitui um imenso privilégio para mim. E tanto mais porque sei que aqui vou sentar-me ao lado de Dideus Sales, Gilmar de Carvalho, Anamélia Mota, Michel Pinheiro, Adelaide Gonçalves, Antônio Viana de Carvalho e Edmilson Barbosa Francelino, intelectuais que tanto estimo e admiro, assim como estimo e admiro Patrícia Gomes de Aguiar, minha aluna na Universidade e, de último, a dinâmica e operosa gestora deste município.
Tomo posse na cadeira n.º 39 da Academia Tauaense de Letras sob o signo do escritor Ulisses Bezerra: poeta, cientista e jornalista, nascido emTauá, em 1865, e falecido em Fortaleza, em 1920. O elogio que lhe posso fazer (à sua criação literária e à sua memória) é dizer que lhe é uma legenda viva da literatura, como registram os mais eminentes pesquisadores da nossa trepidante história literária.
Orgulho máximo do município de Tauá, no plano da poesia, Ulisses Bezerra foi um memorável agitador de idéias culturais e políticas na fase áurea de consolidação das nossas instituições literárias, ainda no último quartel do século dezenove. Foi um dos fundadores da Padaria Espiritual e seu primeiro – forneiro na época em que Antônio Sales foi presidente da entidade. Ali tomou o nome de batismo de Frivolino Catavento e, como jornalista, colaborou em quase todos os jornais e revistas do seu tempo.
Não sou homem de discursos longos, senhoras e senhores acadêmicos. Prefiro ouvir as reticências e o silêncio do texto, a sugestão da linguagem literária e a música que se esconde nas suas entrelinhas, para aqui ser fiel às lições de Graciliano Ramos e de Machado de Assis.
Agradeço e elogio e o discurso do Professor Edmilson Barbosa. E agradeço também, de forma especial, ao Presidente João Geneilson e a todos os membros da Academia Tauaense de Letras a honraria e o tributo que ora me são outorgados. O título de sócio efetivo da Academia Tauaense de Letras, que nesta noite de glamour e festa me é conferido, constitui, de forma induvidosa, o reconhecimento da minha condição de escritor. Eu o recebo, contudo, em nome da comunidade de Marrecas. E é para Lúcia Cidrão, minha mulher e minha musa, que eu o ofereço.
O distrito de Marrecas está gravado em mim como uma tatuagem, especialmente pelo cheiro gostoso do seu solo, pela atmosfera das suas nuvens pejadas de música e de encanto e pela dignidade da fé com que a sua gente contagia o coração de todas as pessoas.
Posse na Academia
Tauaense de Letras,
em 17/03/2007.
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